São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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ATRASO CAMBIAL

Em 30 de janeiro último o governo anunciou que a cotação do dólar passava a variar entre R$ 0,97 e R$ 1,06. O novo teto da banda cambial, superior a R$ 1,00, ensejou até declaração do porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, de que a paridade do real com o dólar era apenas um "fetiche", ao qual o governo não se ateria.
Poder-se-ia esperar que, a partir de então, com o movimento de capitais já normalizado depois da crise mexicana, o Banco Central não continuasse a valorizar o real em relação ao dólar. Não foi o que ocorreu.
Nos quatro meses que se seguiram, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe acumulou uma variação de 3,6%, o IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) da FGV aumentou 3,3%, mas a cotação do dólar variou apenas 1,94%.
Ainda que certamente não esteja à vista qualquer crise na área externa, é inegável que uma valorização excessiva do real pode fragilizar a estabilização e tende a criar constrangimentos ao crescimento da economia.
Atualmente, o vigoroso afluxo de capitais, os sinais ainda positivos nas exportações e o alto nível de reservas internacionais dão sustentação à valorização cambial. Mas seria temerário apostar indefinidamente nesse financiamento externo. Nesse sentido, seria positivo sinalizar, senão com algum tipo de correção gradual e cautelosa, ao menos com uma indicação de que o atraso cambial não será agravado ainda mais.
Afinal, sob qualquer critério, a valorização hoje é um fato. Passados já quase dois anos da introdução do Plano Real e depois de cerca de 50% de elevação nos índices de preços para o consumidor, a taxa de câmbio iguala hoje a paridade que tinha na véspera do lançamento do plano.
Não resta dúvida de que a valorização cambial contribuiu imensamente para a queda da inflação e seus evidentes benefícios. Mas, sob o risco de criar incerteza, não convém exagerar na dose.

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