São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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À mão esquerda

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não aprecio a expressão "primeiro mundo" para designar coisas, ambientes ou climas mais civilizados e eficientes. Revela, entre outras coisas, um bafio de menoridade, um deslumbramento de colonizado. Mas o novo romance de Fausto Wolff que a Editora Civilização Brasileira acaba de editar, "À Mão Esquerda", pela mobilidade de suas cenas e pela universalidade dos temas que aborda, merece a classificação. É, em todos os sentidos, um romance maior.
Não vem ao caso determinar se a obra é autobiográfica. Eventualmente, também sou acusado de fazer romances autobiográficos. O dia em que, num desvario intelectual, decidir escrever uma, colocarei a indicação explícita na capa e na página de rosto: "autobiografia". O mesmo faria Fausto Wolff. O livro dele é um romance, relato muito bem bolado e eficientemente escrito. Será ocioso investigar se tal ou qual cena, se tal ou qual personagem equivale na vida real a fulano ou a alguma coisa.
O espaço-tempo do livro transcende a uma biografia: é, realmente, a saga de emigrantes alemães que tentam criar num chão estranho não apenas uma nova vida, mas um novo sentido de vida. Vários personagens gravitam em torno do protagonista -e o coro desses coadjuvantes forma um romance à parte, por sinal um dos melhores da literatura brasileira.
O núcleo de "À Mão Esquerda", porém, é seu violento e frágil personagem central, desastradamente romântico, perseguido por emoções e pânicos, que atravessa um tempo e um meio mais como vítima do que como cúmplice. Achado especial são as inserções de séculos atrás, que me fizeram lembrar os romances de Pãr Largerkvist. Sim, um romance maior.
Internacional no modo, o livro é universal na expressão. No longo desfile de gentes e cenários tão variados, Fausto Wolff logrou escrever o romance de uma geração.

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