São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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Ano 2000

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Aos poucos, vai-se difundindo entre nós a percepção de que estamos nos aproximando do final do século. Não se trata de incrementar os prognósticos de videntes e adivinhos ligados, às vezes, a previsões pessimistas que intimidam e alarmam o povo. É preciso, pelo contrário, usar da confiança em Deus e da liberdade para construirmos uma sociedade sem ódio e violência, na qual justiça e paz se abracem.
A Igreja, sob a inspiração do papa João Paulo 2º, caminha, com esperança, rumo ao ano 2000 e se prepara para celebrar o jubileu bimilenar do nascimento de Jesus Cristo. É o maior evento de nossa história da salvação. Pela encarnação, a pessoa do filho de Deus assume a natureza humana e habita entre nós.
A celebração do ano 2000 se reveste de especial solenidade pela proclamação do "Grande Jubileu". As raízes do ano jubilar encontram-se nos livros do Êxodo, Levítico e Deuteronômio que convidavam o povo a rever o cumprimento da aliança com Deus.
Era ano santo, de graça, perdão e reconciliação: os prisioneiros e escravos recebiam a liberdade, as dívidas eram perdoadas e a justiça devia ser restabelecida, especialmente em benefício dos pobres.
O povo se alegrava e louvava a Deus. A palavra jubileu provém de "jobel", chifre de carneiro que era usado como trombeta e cujos toques festivos convocavam o povo para a celebração.
O profeta Isaías (60, 1 e 2) refere-se ao Messias como aquele que há de proclamar o "Ano da Graça do Senhor". Jesus Cristo, na sinagoga de Nazaré, levantou-se e leu o texto e aplicou-o a si (Lc 4). Ele vem nos trazer a graça divina e ensinar-nos a amar.
Nos séculos precedentes, muitas vezes foram proclamados pelo santo padre anos jubilares, com notáveis frutos espirituais. No entanto, o jubileu do ano 2000 será, sem dúvida, o mais importante até hoje, pela preparação que está sendo promovida, com entusiasmo, em toda a Igreja.
Poderá ser o momento privilegiado de uma profunda conversão para os cristãos e a humanidade. Cabe a cada um de nós rever a própria vida, à luz do projeto divino da salvação, e procurar, com a graça de Deus, emendar-se de suas faltas.
Há pecados graves que ofendem a Deus e ao próximo e precisam ser erradicados para resgatar o projeto divino desvirtuado. Eis aí o trabalho espiritual a ser realizado, a fim de que já nesta vida possamos nos aproximar do ideal que Cristo nos aponta com seu exemplo e ensinamento.
Dois pontos são fundamentais. O primeiro é o de nos empenharmos para que todos, como filhos de Deus, tenham condições dignas de vida, superando as gritantes desigualdades e injustiças sociais. Aqui se inserem as campanhas contra a fome e a miséria.
O outro ponto é o da coerência com os ditames da consciência, respeitando o valor da vida humana, desde a concepção até o termo natural de sua existência nesta terra, a santidade e firmeza do vínculo conjugal e familiar e, em especial, impedindo os abusos sexuais e sevícias contra crianças e adolescentes.
O ano 2000 poderá ser o início de uma nova época para a humanidade, na medida em que -com a graça divina- os cristãos tivermos a coragem de testemunhar o mandamento do amor e de expressá-lo de verdade, nas atitudes pessoais e comunitárias.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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