São Paulo, sábado, 8 de junho de 1996
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Municipalização do debate

TEOTONIO VILELA FILHO

As próximas eleições serão as primeiras, em muitos anos, com um cenário econômico de estabilização monetária e pleno controle da inflação, com um inegável aumento do consumo de alimentos, sobretudo nas faixas mais carentes da população, e com uma perspectiva concreta de crescimento sustentado da economia.
Essas condições macroeconômicas certamente contribuirão para a municipalização do pleito e de seus debates -a questão municipal se impondo aos problemas nacionais, a competência administrativa se sobrepondo ao debate puramente ideológico. É expressivo que pesquisas eleitorais em grandes cidades brasileiras confiram a questões econômicas uma posição secundária em relação a problemas essencialmente locais e de administração municipal ou estadual.
O eleitor tenderá a se perguntar, cada vez mais, quanto tempo de seu dia ele estará condenado a passar dentro do ônibus na ida para o trabalho ou quanto tempo ele aguardará por uma consulta médica no ambulatório municipal. A capacidade da prefeitura de resolver problemas de transportes de massa, em São Paulo, Recife ou Boa Vista, terá, inevitavelmente, maior apelo que a política cambial, por exemplo. As obras de contenção de morros ou de proteção contra enchentes ganharão indiscutível predominância sobre a privatização de estatais.
Essa predominância nem significa exclusividade das questões locais muito menos implica exclusão dos assuntos nacionais. Qualquer debate municipal ou estadual forçosamente será hoje permeado por temas como o redimensionamento da máquina administrativa, o enxugamento das estruturas públicas e o papel do Estado em todos os níveis. O que terminará por trazer aos palanques e à agenda municipal cenários mais abrangentes, como as reformas constitucionais, por exemplo. As questões administrativas municipais ou estaduais têm cada vez mais uma dimensão nacional inseparável.
Mais ainda, todo o debate municipal terá como inevitável pano de fundo o Plano Real, que consubstancia e inspira todas as políticas econômicas do governo. O plano fincou-se de tal forma na vida brasileira que virou cenário básico de quase todas as ações do dia-a-dia nacional. Por isso mesmo o Plano Real já nem será o ator principal dessas próximas eleições nem tema preponderante de campanha. Talvez, sozinho, não consiga eleger ninguém, mas é provável que tenha forças para derrotar quem propuser contrariá-lo, comprometê-lo ou destruí-lo.

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