São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Pára-brisas velhos viram garrafas

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Espuma de banco de carro velho vira forração de carpete. Vidro do pára-brisa se transforma em garrafa de vinho e de cerveja. Pára-choque obsoleto passa a ser duto de ar-condicionado. Consoles estragados viram tapete de automóvel.
Desde 1990, essa metamorfose vem ocorrendo na Itália com os carros da Fiat. É resultado de um programa de reciclagem de matéria-prima, o Fare (Fiat Auto Recycling), que hoje emprega indiretamente cerca de 5.000 pessoas, envolve 104 empresas italianas na operação e já reciclou 150 mil carros -a maioria com cerca de 15 anos de uso.
Acordo
O italiano Salvatore Di Carlo, coordenador do Fare, disse à Folha que até 2002 cinco países europeus (Itália, França, Alemanha, Espanha e Áustria) têm como meta reciclar 85% do peso dos carros.
Esse mesmo acordo entre os fabricantes pretende reciclar, até 2015, 95% do peso dos carros.
"Não é um milagre e nem é, ainda, a geração zero de lixo. Mas é importante e é possível desenvolver o conceito da reciclagem em cascata na indústria automobilística. Queremos estar na frente e temos números, resultados para mostrar", disse Di Carlo.
Segundo dados apresentados por Di Carlo, hoje em dia a reciclagem custa entre 10% a 15% a mais do que desenvolver o produto com matéria-prima "virgem". Esse custo, segundo Di Carlo, é absorvido pela Fiat sem traumas.
Isto não quer dizer que a Fiat seja a empresa mais ambientalmente correta do mundo.
Significa que a empresa identificou e está tomando medidas concretas para evitar um problema que afeta o mundo todo -mas que é dramático na Europa: não há mais espaço para acumular tanto lixo produzido, daí a necessidade de reutilizar o máximo de matéria-prima possível, mesmo que isto custe um pouco mais.
Plástico
Um exemplo que deixa clara a participação dos fabricantes de carros na montanha de lixo produzida anualmente no mundo: entre todos os resíduos gerados, o plástico representa 7% do total. Já o impacto do resíduo plástico do carro no volume de lixo é de 0,5%.
"Parece um percentual baixo, mas não é. Precisamos entender que só produzimos veículos. Visto desta forma, passa a ser grande a nossa responsabilidade."
Em 1993, a Fiat apresentou seu programa de reciclagem à Organização das Nações Unidas, em Nova York. Está estudando agora uma forma de mostrar o Fare na Habitat 2 (a conferência de cúpula da ONU, que termina no dia 13 em Istambul, Turquia).

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