São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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População brasileira envelhece depressa

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem pressa de envelhecer. Entre toda a população brasileira, o grupo de idosos é o que aumenta mais rápido: 3,46% ao ano. Por outro lado, a faixa de jovens até 14 anos tem decrescido 0,69% anualmente.
Em termos absolutos, as pessoas com 65 anos ou mais são hoje 7,540 milhões no Brasil. No atual ritmo de crescimento, a cada ano essa faixa etária tem um acréscimo de cerca de 260 mil pessoas.
A velocidade do envelhecimento, entretanto, deve acelerar ainda mais. Segundo projeção do IBGE, de 2010 a 2020 a terceira idade crescerá 4,04% por ano. Ao fim desse período, os idosos serão 17,9 milhões, ou 9% da população (o dobro do que representam hoje).
Por volta dessa época, a mesma geração que chegou à adolescência ouvindo que o Brasil é um país jovem estará chegando à terceira idade. Com ela, mudarão as principais demandas sociais: em vez de vagas em escolas, leitos hospitalares e aposentadorias.
Causas
As causas desse fenômeno são duas: a diminuição drástica da taxa de natalidade e a queda da mortalidade. Estão nascendo e morrendo proporcionalmente menos brasileiros do que há 50 anos.
"A partir da década de 40 houve um declínio da mortalidade, com o advento dos antibióticos no Brasil. E desde os anos 60 tem diminuído a fecundidade", explica o gerente do projeto Componentes da Dinâmica Demográfica do IBGE, Juarez de Castro Oliveira.
A razão de a taxa de natalidade ter sofrido uma queda brusca é a adoção maciça dos métodos contraceptivos, especialmente a esterilização feminina.
Segundo o demógrafo Celso Simões, do IBGE, cerca de 30% das mulheres nordestinas em idade fértil se submeteram à esterilização -embora essa cirurgia seja vetada na rede pública. Só 25% usam pílula anticoncepcional.
Pirâmide
Como resultado, a pirâmide demográfica do país está mudando de perfil, se aproximando da dos países desenvolvidos: a base, onde estão os jovens, se estreita enquanto o corpo e o cume, locais dos adultos e idosos, se alargam.
O envelhecimento da população tem impactos sobre as políticas públicas. A diminuição do número de jovens e crianças torna ociosas vagas em escolas. Ao mesmo tempo, agrava-se a pressão por postos de trabalho, diante do aumento da população adulta.
O alargamento da faixa acima de 65 anos pressiona os sistemas previdenciário e de saúde. Há uma maior demanda por internações e por tratamentos hospitalares, e a população em idade de se aposentar aumenta geometricamente.
Regiões
A distribuição geográfica das populações idosas está longe de ser homogênea. As regiões menos urbanizadas e de exploração mais recente têm mais jovens e uma idade média menor.
No Norte e no Centro-Oeste estão as menores proporções de idosos do país: 3,01% e 3,27%, respectivamente -segundo o Censo de 91. Roraima é o Estado com o menor percentual, 2,09%, e o Amapá é o que tem a mais baixa idade média: 15,9 anos.
A Paraíba, no Nordeste, e o Rio Grande do Sul, no extremo oposto, também concentram idosos. Pelo mesmo motivo: os mais jovens migraram para outros Estados em busca de trabalho e tiveram diminuído seu peso no total da população.

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