São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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RAÍZES DO BRASIL

O massacre e o genocídio são formas de violência coletiva que frequentam o século 20 com uma regularidade espantosa para uma época geralmente associada a vastos processos de democratização de massas. O espanto é ainda maior levando-se em conta que, mesmo fora dos períodos de guerra, muitas vezes o que se observa são processos silenciosos de aniquilamento, sub-reptícios, movidos pela ignorância, pelo descaso ou pelo puro e simples desrespeito aos direitos humanos.
O exemplo das populações nativas ou indígenas é eloquente, em todo o mundo. Da africana miséria assassina ao alcoolismo endêmico entre índios norte-americanos, há uma absurda e inaceitável destruição de cultura e patrimônio humanos.
No Brasil o fenômeno também ocorre, apesar das inúmeras declarações de boas intenções, da criação de órgãos ou mesmo da "constitucionalização" dos direitos dos índios.
Reportagem desta Folha revelou que os índios brasileiros estão vivendo menos. Entre 93 e 95, a expectativa de vida dos índios caiu 5,6 anos.
Não se trata de acaso. A Funai (Fundação Nacional do Índio) investiu no ano passado R$ 22 por índio/ano, enquanto o SUS (Sistema Único de Saúde) investe R$ 100.
Os povos indígenas que vivem menos são os da Amazônia. A região enfrenta fortes surtos de malária e hepatite, doenças levadas pelos madeireiros que invadem a reserva.
A Funai responde contestando a base de dados com que foi feita a pesquisa sobre a expectativa de vida dos índios brasileiros. Ora, mas a inexistência de dados confiáveis já é em si mesma o atestado maior da ineficiência da própria Funai!
Como em tantas questões sociais no Brasil, há vários órgãos tratando do tema para que ninguém afinal assuma a responsabilidade. O Ministério da Saúde, o Ministério da Justiça, Estados e municípios seriam todos, em princípio, parcialmente responsáveis pela questão.
E vão cortando o Brasil pelas raízes.

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