São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Nada de novo

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

O que ele falou na Austrália, não sei. Mas o que ele escreveu nos Estados Unidos me parece uma mera repetição do que se fala aos quatro ventos aqui no Brasil.
Refiro-me ao artigo de Rudiger Dornbusch cujo título é, em si, um atrevido puxão de orelhas: "O Brasil esgotou suas desculpas" ("Business Week", 10/6/96).
Ali, o controvertido economista diz que o presidente Fernando Henrique Cardoso fez um extraordinário trabalho ao derrubar uma inflação renitente, mas falhou ao tentar realizar as reformas garantidoras da vida do Plano Real.
Não sei porque se travou tanta discussão em torno dessas declarações. Afinal, Dornbusch parafraseou o que os empresários disseram ao presidente da República no dia 22 de maio em Brasília.
Repetiu o que centenas de economistas brasileiros vêm dizendo de norte a sul. Falou coisas que a imprensa publica todos os dias.
Consta que, em Sydney, ele estimou a sobrevalorização do real em 40% e previu uma crise cambial "à la mexicana", se as reformas não forem feitas com rapidez.
Se disse tudo isso, há nas suas palavras uma afirmação questionável e outra inquestionável.
É questionável que o real esteja sobrevalorizado em 40%. Os cálculos diferem. Os que exportam estimam a sobrevalorização em uns 20%.
Por outro lado, é inquestionável que a crise cambial virá na ausência das reformas. É questão de tempo, pois nenhum plano econômico pode se sustentar indefinidamente com base em um saco de ventos.
A âncora cambial e os juros escorchantes foram artifícios criados para ajudar a implantação do Plano Real de forma interina e não para funcionar como espinha dorsal definitiva na estabilização da moeda.
A aludida polêmica constitui mais um alerta para os que têm responsabilidade pela manutenção da estabilidade econômica e política deste país. Uma demora adicional nas reformas trará sérios aborrecimentos.
No campo econômico, a equação não fecha, pois os juros não baixam; o país não cresce; e a dívida interna dispara. O que esperar de quadro desse tipo?
No campo político, os problemas sociais se agigantam; a falta de emprego apavora; e os excluídos aumentam a cada dia. O que esperar de tanta frustração?
Mas, em lugar de fazer o que precisa ser feito, o Senado Federal decidiu ouvir Dornbusch, patrocinando, assim, o prolongamento do tormentoso debate.
Debater o quê? O óbvio! Importar talentos para quê? Para dizer o que os brasileiros responsáveis estão cansados de saber!
Francamente, penso que seria bem mais útil para os nossos parlamentares investirem seu tempo nas reformas em lugar de entreter pessoas que repetem platitudes.
Os que amam as liberdades (econômica e política) já deveriam ter levado a sério as mudanças da previdência, do Estado, dos tributos e da administração pública.
Chega de discussão. Que se comece a ação -de uma vez por todas!

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