São Paulo, domingo, 9 de junho de 1996
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Cooperativa de franquia exige cuidados

NELSON ROCCO
DA REPORTAGEM LOCAL

As cooperativas de franquia são uma forma de viabilizar um negócio para quem tem pouco capital.
Mas o interessado no sistema deve ficar com um pé atrás e se cercar de todas as informações possíveis antes de comprar uma cota.
Nas cooperativas, um grupo de pessoas se reúne e abre uma franquia. O ideal é que cada sócio tenha um mínimo de 10% -e nenhum mais que 40%- do investimento total. Um deles é o operador.
No entanto, algumas delas concentram mais de 20 sócios -e este é um dos principais problemas.
A loja de comida chinesa Jin Jin do shopping Interlagos (zona sul de São Paulo) funciona sob o sistema de cooperativa. Eliana Ferreira Machado, 48, sócia-operadora, tem 10% das cotas.
Cobrança
Eliana tem mais sete sócios, que detém entre 5% e 23% das cotas. "Eles cobram muito e nem sempre entendem o que está acontecendo, porque não vivem o dia-a-dia da loja."
Desde janeiro de 95, quando a Jin Jin foi inaugurada, Eliana já investiu R$ 21,6 mil. "Esse valor está contabilizado até 31 de maio, porque neste mês teremos que colocar dinheiro na loja."
O faturamento médio da loja é R$ 23 mil. Segundo ela, está no ponto de equilíbrio. "Porém, não são todos os meses em que ele é alcançado", ressalta.
Para evitar atritos entre os cotistas, um grupo majoritário decidiu suspender as reuniões mensais desde setembro passado e tomar as decisões na empresa.
"Quando nos reuníamos para divulgar lucro, ótimo. Quando as contas mostravam prejuízo, era um pandemônio", conta.
Gerente
Basílio Resk, sócio-operador da Mister Sheik da praça da República (centro de São Paulo), tem nove sócios e diz não ter problemas.
"Abrimos a loja em agosto do ano passado. Os sócios fazem cobranças, mas acho isso normal, já que eu funciono como um gerente da loja", afirma.
O empresário Roberto Assef Filho, 35, afirma não ter do que reclamar das cooperativas de franquia. Ele participa como investidor em seis unidades.
Assef Filho conta que em apenas uma das casas teve de fazer novos investimentos. "Os problemas só aparecem nas casas que não dão lucro", afirma.
Ele é cotista da primeira cooperativa de franquia criada. Segundo ele, o retorno do investimento aconteceu em menos de 12 meses.
Restrições
A Comissão de Ética da ABF (Associação Brasileira de Franchising) tem restrições ao sistema.
Madeleine Susan Lou Berger, 41, presidente da comissão, diz que a entidade não é radicalmente contra as cooperativas, mas recomenda que se tome cuidados.
"Uma das restrições é que o objetivo principal da franquia -que é viabilizar que uma pessoa tenha o negócio próprio- se perde."
Baixo retorno
Susan diz que a comissão tem recebido queixas de cooperados. Elas tratam, diz, do baixo retorno sobre o investimento.
"As cooperativas têm um ponto interessante, que é dar possibilidade ao pequeno empresário de ter um negócio."
Ela ressalta, porém, que existem poucas atividades capazes de gerar receita suficiente para dividir entre todos os sócios.
Criação
Hugo Crespi Júnior, 38, diretor da Franchise Associados, diz que as regras de funcionamento da sociedade devem ficar claras para evitar problemas.
Foi a Franchise Associados que criou o sistema de cooperativas. Já montou entre 30 e 35 delas.
Segundo Crespi, o número de sócios não pode passar de dez para investimentos entre R$ 250 mil e R$ 300 mil.
"Se o negócio for muito pequeno, o pró-labore do operador terá um impacto muito grande nas despesas."

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