São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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Palmeiras foi o avesso do avesso do avesso

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Foi uma festa decepcionante para a envergadura do título conquistado pelo Palmeiras: nas arquibancadas, poucos torcedores; no campo, um time remendado que, mesmo diante do despencado XV de Jaú, praticou um futebol burocrático e opaco, em um esquálido 1 a 0.
O avesso do avesso do avesso daquele Palmeiras que encantou até seus mais empedernidos adversários, cumprindo a maior campanha num Paulista desde a implantação do profissionalismo, em 1933.
Como o fecho, a já quase certa volta de Muller para o São Paulo. Maus augúrios.
*
Na verdade, a bola só começou a rolar com certa ciência nesta Eurocopa quando a Alemanha entrou em campo. Ou melhor: a partir dos 20min do jogo contra os tchecos, até o intervalo, tempo suficiente para os alemães meterem 2 a 0, em dois disparos precisos -um de Ziege, outro de Moller.
No segundo tempo, com a entrada de Berger (o que fazia no banco?), os tchecos reagiram, mas logo se conformaram.
É verdade que, na partida anterior, a Bulgária ofereceu bons momentos no empate diante da sempre aguerrida e tosca Espanha. Sobretudo, quando a bola caía aos pés de Stoichkov, autor de um belo gol anulado pelo juiz.
Mais ainda quando entrava em cena Lechkov, aquele careca com perfil otomano que se multiplica pelo campo como mercúrio espatifado. O cara não erra um passe, um drible, uma investida sobre o adversário, marca, arma e ataca por qualquer lado do campo.
"Fenómeno", como diriam os velhos argentinos.
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Pensei em dizer que o vetusto estádio de Wembley deve estar envergonhado por ter sido palco a tão melancólico espetáculo como o da abertura da Eurocopa, com o empate de um gol entre Inglaterra e Suíça.
Mas acho que o venerando campo já está habituado com o triste futebol patrício.
É bem verdade que há um século os ingleses não mudam, e, sábado, mudaram. Sim, porque, antes eles tinham uma só jogada: bola para os pontas, o cruzamento alto para o cabeceio de seus gigantescos avantes. Sábado, nem isso. Nada.
A não ser pontapés, chutões e tentativas de dominar a bola, apesar do gramado impecável.
Quanto à Suíça, pelo menos até à entrada de Chapuisat em campo, mais parecia um time de funcionários da Otan, participando de uma pelada de fim-de-semana: lá estavam um germânico Vogel, um meridionalíssimo Grassi, um gaélico Quentin, um fidalgo espanhol Ramón Vega e alguns franceses, todos se divertindo muito numa ensolarada tarde.
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Foi um final digno para uma das mais brilhantes carreiras do boxe, o da madrugada de sábado, quando Julio Cesar Chávez perdeu o título para o fenomenal Oscar De La Hoya.
Deixou o ringue no quarto assalto de pé, com a mesma postura com que varou cem lutas exprimindo coragem e técnica inigualáveis.
Fez bem o juiz em suspender o combate. Não só porque o campeão sangrava muito pelo supercílio ferido por uma direita demolidora do desafiante. Mas porque a luta se transformaria num massacre.
Cai um mito, nasce outro.

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