São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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'Dois' Joshua Bell se apresentam em SP

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O violinista norte-americano Joshua Bell, 28, começa hoje sua série de três apresentações em São Paulo. Dois de seus recitais são abertos ao público: o de hoje, no World Trade Center, e o de amanhã, no Mosteiro de São Bento.
Ele desembarca com a reputação de instrumentista bastante requisitado -cerca de cem recitais por ano- e já com dez CDs no mercado, número bem razoável para alguém de carreira tão recente.
Bell foi aluno de Josef Gingold na Universidade de Indiana, de Ivan Galamian, na Julliard School (Nova York), e do grande solista mexicano de origem polonesa Henryk Szeryng (1918-1988).
Obtém aos 15 anos um prêmio da General Motors que lhe permite se apresentar, como solista, com a Orquestra de Filadélfia, sob a direção de Ricardo Muti.
Carnegie Hall Três anos depois, apresenta-se pela primeira vez no Carnegie Hall e, aos 20 anos, inicia apresentações na Europa e Japão.
Dentro da "genealogia" de violinistas contemporâneos, Bell descende de professores como Ysaye e faz parte da mesma escola que o boliviano naturalizado norte-americano Jaime Laredo.
Bell e seus empresários procuram dar a sua carreira um perfil fundamentado na precocidade e no virtuosismo. São dois de seus inegáveis atributos, mas com algumas ressalvas, evidentes em duas de suas recentes gravações.
No CD com 19 peças do austríaco Fritz kreisler (1875-1962), seu violino se adapta a uma musicalidade ligeira, a um descompromisso que partituras como "schõn Rosmarin" impõem com relação a qualquer profundidade.
Exibicionismo A boa execução se confunde com um certo exibicionismo técnico (exemplo: a queda do arco sobre a corda em que será executada uma colcheia, na sequência de uma pausa ou de uma semínima).
O público da classe média gosta da pirotecnia -é no caso um consenso interpretativo- e Bell não o deixa decepcionado.
Em outro CD, com concertos para violino e orquestra de Brahms e Schumann, é uma outra vertente de Joshua Bell que vem à tona.
Em Brahms, o adágio é de uma pureza cerebral, com um extremo comedimento sonoro e uma maturidade que lembra a de Menuhin nos anos 30.
Em Schumann, na tonalidade de ré menor, o terceiro movimento é lúdico, mas nem um pouco leviano.
Impossível prever qual dos dois Joshua Bell se apresenta a partir de hoje em São Paulo. Cada um, a seu modo, fará sucesso junto a uma parcela bem diferente de ouvintes.

Concertos: Joshua Bell (violino), com Andrew Degrado (piano)
Onde e quando: World Trade Center, hoje; Mosteiro de São Bento, amanhã; União Cultural Brasil-EUA, quarta-feira, dia 12 (espetáculo fechado)
Programas: Schubert, Prokofiev, Bach, Kreisler, Schumann, Wieniawski e Corigliano
Quanto: R$ 50 (no WTC) e R$ 20 (São Bento). Venda somente pelo Teleingresso Statione. Tel. 5589-8202 e 0800-128202

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