São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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Green Day anuncia o fim do rock'n roll

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Green Day se recusa a ser pop. Depois de vender 12 milhões de cópias do disco "Dookie", a banda resolveu emendar sua turnê mundial, ficar mais de dois anos na estrada e gravar um álbum virulento, "Insomniac", que foi lançado quase sem divulgação e com um vídeo que arrepiou a MTV por suas cenas de extração dentária.
Agora, a banda começa a sentir os efeitos colaterais. E justamente às vésperas de sua primeira turnê pela América do Sul.
"A exaustão nos deixou doentes", diz, por telefone, o vocalista e guitarrista Billie Joe Armstrong. "Tivemos que cancelar uma turnê pela Europa porque nosso baixista teve problemas cardíacos".
Mesmo assim, Billie Joe é otimista em relação a shows no Brasil neste ano: "Temos uma boa proposta para tocar aí. Assim que voltarmos a excursionar, a primeira parada deve ser a América do Sul".
A história de sucesso do Green Day repete em muitos aspectos o drama do Nirvana -banda cultuada no underground- estoura nas paradas e se recusa a fazer o papel de ídolos do rock. Mas para o Green Day as cobranças foram ainda maiores, por causa da origem punk do grupo.
"A pressão de vender 12 milhões de discos e colocar o punk rock na MTV foi imensa". Mas tudo o que Billie Joe fez na vida foi tocar no Green Day. "Tinha 15 anos quando formamos a banda. Agora, tenho 24 e um filho que ainda não completou um ano. Não conseguiria fazer outra coisa."
Ele jura que tira as pressões de letra. "Não sou um bebê chorão, não vou ficar reclamando: 'Que droga, por que fui fazer sucesso?', como certas bandas que estão aí. Não me importo que me chamem de punk pop, nem que me acusem de vendido. Não acho que nos vendemos. Por que me importar?"
Só há um lado da fama difícil de contornar, ele conta: "As pessoas nada a ver, que acabam comprando o disco e indo aos shows".
Billie Joe está complemente desencantado com a cena musical americana. "Hootie and the Blowfish?, dá um tempo!", ele reclama. "Há dois anos, tínhamos músicas incríveis, como Nirvana e Weezer, mas todo esse rótulo 'alternativo' agora serve para Hootie, como se tivesse sido feito para ser consumido por universitários da classe média -não por adolescentes."
A "revolução alternativa" acabou? "Houve uma revolução, sim, embora o termo hoje soe meio datado -parece coisa da década de 60. Mas chegou a existir um período de honestidade nesta década, de raiva construtiva. Mas a música gira em círculos. Talvez esteja errado, mas acho que o rock'n'roll está prestes a mergulhar de cabeça no concreto. É o fim do século. O fim do rock pode acontecer antes de 1999."

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