São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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ENCENAÇÃO COLETIVA

O mínimo que se pode afirmar sobre a decisão do prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, de aumentar as passagens de ônibus de R$ 0,65 para R$ 0,80 é que a administração assumiu o deplorável papel de gerenciar um pacto inflacionário em favor de empresas e assalariados sindicalizados e em prejuízo de toda a população da cidade. Trata-se de um aumento encenado já há um mês, cuja história apresenta sinais de que as empresas do setor favoreceram a majoração dos salários como pretexto para elevar ainda mais a tarifa.
O primeiro indício de que havia algo errado foi a postura especialmente tolerante das empresas de transporte coletivo diante de uma greve convocada para o dia 8 de maio. A paralisação atingiu o excepcional grau de adesão de 98% da categoria.
A disputa salarial foi então para a Justiça, e o Tribunal Regional do Trabalho concedeu 16% de aumento aos motoristas e cobradores. Em seguida, porém, o Tribunal Superior do Trabalho acolheu recurso suspendendo o aumento. Ora, é de estranhar -se é que não cabe indagar sobre os incertos motivos do prefeito- que depois disso a mesma correção salarial de 16% tenha sido concedida sem constrangimento por acordo assinado diretamente com os funcionários. Pois foi o que ocorreu no início da semana passada. Dois dias depois, a prefeitura anunciava o aumento de 23,1% nas passagens.
É profundamente lamentável que, no momento em que toda a economia se encontra sob a pressão da queda no crescimento e da concorrência externa, determinadas esferas do poder público elevem arbitrariamente os preços sob sua administração, contra os quais o consumidor simplesmente não tem alternativa. Em vez de eficiência e ganhos de produtividade, certos concessionários da prefeitura continuam simplesmente aumentando preços.
Na véspera do Plano Real a passagem de ônibus em São Paulo -que já não custava pouco- correspondia a R$ 0,45. Saltando agora para R$ 0,80, o aumento total será de 78%. É demais. É injustificável.

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