São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996
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E tal e coisa

JANIO DE FREITAS

A aprovação da tática para obter do Congresso a reeleição presidencial, ocorrida na semana passada em jantar no Alvorada, traz a esperança de que esse assunto deixe de ser o de maior relevância na atividade de Fernando Henrique Cardoso, que lembra a obsessão do Juquinha anedótico. Mas também leva a esperar maior envolvimento seu, e portanto do governo, nas eleições dos prefeitos.
A tática, formulada pelo comando do PFL e exposta no jantar pelo presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, prevê a votação do projeto reeleitoral como primeira atividade importante do Congresso tão logo definidos os resultados eleitorais. Isso porque a idéia é vencer as resistências à reeleição, sejam as de parlamentares ou as da opinião pública, fazendo ampla exploração propagandística dos êxitos eleitorais do PSDB e do PFL. É a hora do novo Brasil, e tal e coisa.
O maior volume de êxitos municipais, sobretudo nas cidades de maior repercussão, passa a ser taticamente de grande importância para os planos continuístas de Fernando Henrique. E o primeiro efeito prático do acordo não esperou mais de 72 horas depois do jantar no Alvorada: já no final da semana, Fernando Henrique estava no Rio negociando um entendimento entre as várias correntes do PSDB, postas em conflito pela truculência com que Marcello Alencar tenta, ou tentava, impor sua escolha pessoal para a candidatura peessedebista.
Nem esta nem outras negociações, nem, muito menos, o impulso a ser dado aos candidatos governistas se farão sem uso do poder presidencial. Ou seja, do poder de utilizar, de imediato ou em compromissos para o futuro, os instrumentos criados para governar.
Nova chance
A convocação de Zélia Cardoso de Mello para depor no Supremo Tribunal Federal, daqui a 20 dias, cria nova oportunidade para se conhecer uma resposta até hoje buscada em vão. O depoimento é motivado pelas conclusões do delegado Paulo Lacerda, no inquérito central sobre o esquema Collor-PC, de que a então ministra foi uma das pessoas que se beneficiavam com a dinheirama paga por favores governamentais, inclusive do Ministério da Fazenda. Entre estes, o aumento substancial das passagens de ônibus interestaduais, em plena vigência do congelamento.
Também nessa época, deterioravam-se nos cofres governamentais as poupanças e depósitos bancários de todos que os tinham quando da posse de Collor. Período em que ninguém pôde fazer mais gastos do que os necessários ao dia-a-dia. Mas não só o próprio Collor reformava a Casa da Dinda e produzia cascatas. Zélia também se entregava a investimentos imobiliários em São Paulo -e, por mais que se indagasse, nunca fez a gentileza de informar a procedência dos recursos tão livres.
O cartel dos ônibus interestaduais deu, no inquérito, a informação de que pagou US$ 1 milhão pelo aumento. E o delegado Lacerda reuniu indícios de que boa parte do suborno destinou-se a ocupantes da Fazenda. Mas não eram os porteiros e ascensoristas.

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