São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996
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DIPLOMACIA DO ZIGUEZAGUE

O governo brasileiro demorou a perceber, mas a diplomacia econômica tem hoje uma importância, senão inédita, pelo menos bastante significativa. Curioso é que o atraso do Brasil tenha sido tão dramático precisamente nesses anos ao longo dos quais um ministro da Relações Exteriores tornou-se ministro da Fazenda e, depois, presidente da República.
O resultado das ações descoordenadas foi uma trombada frontal do Brasil com a Organização Mundial do Comércio e com importantes parceiros comerciais, como Japão e Coréia.
Criou-se primeiro uma excepcional abertura às importações de automóveis. Constatada a inviabilidade do modelo, em especial depois da crise mexicana, passou-se à montagem de um "regime automotivo" que, aliás, já tinha paralelos no próprio Mercosul, mas não tinha sido negociado com os parceiros. Agora, definidos os benefícios para as montadoras que aqui já estão instaladas, o governo se vê às voltas com forte pressão de japoneses e coreanos.
É uma diplomacia econômica que segue ziguezagueando. Agora serão negociadas cotas com os queixosos. Até um certo volume haveria importações com alíquotas preferenciais. Sem essa concessão, os japoneses prometiam entrar rapidamente com uma denúncia na OMC. Como agora não é possível simplesmente desmontar o regime de benefícios para as montadoras já instaladas, trata-se de estender alguns outros benefícios a quem não se instalou ou prefere esperar, testar o mercado antes de investir na construção de fábricas e contratação de trabalhadores.
A negociação pode e, aliás, deve ser a mais lenta possível. É importante evitar que a disputa volte para a OMC e, ao mesmo tempo, adiar a redução tarifária que, nas atuais circunstâncias, pode não ser compatível com o equilíbrio do comércio exterior.
E torcer para que, nesse intervalo, japoneses e coreanos afinal se decidam a produzir mais no Brasil. E o governo aprenda a olhar com a devida atenção a um campo da diplomacia que, na era da globalização, não pode ficar em plano secundário.

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