São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 1996
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Sobreviventes relatam minutos de pavor

RICARDO FELTRIN; ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

"Caí no chão com a explosão. Quando me levantei, só pensei em fugir. Eu pisava em corpos, em pedaços de corpos cobertos por pedras e terra. Enquanto fugia, desesperada, via mãos e cabeças saindo dos escombros. Muitos feridos seguravam minhas pernas, pedindo socorro. Foi como um filme de terror".
Assim Adriana Oliveira de Assis, 23, funcionária da loja de telefonia Cell-Center, descreveu os momentos que se seguiram à explosão no Osasco Plaza Shopping.
A Cell-Center ficava a poucos metros do epicentro da explosão e foi completamente destruída. Mais dois funcionários da loja ficaram feridos: Barney Brodin, 20, e Leonardo Marques, 20.
"Quando corri, vi uma criança no meio das pedras. Chamei um amigo e tiramos o menino de lá. Ele estava vivo. Entreguei ele na mão de um bombeiro. Não sei se sobreviveu", contou Brodin.
Desespero
Três horas depois do acidente, Adriana, sentada na porta de uma lanchonete numa rua próxima ao shopping, ainda chorava. "Queria ajudar os outros, mas, naquela hora, não dava para pensar em ajudar ninguém."
O estudante Geraldo dos Santos Araújo conta que estava chegando ao shopping, na entrada principal, quando ocorreu o desabamento. "Vi primeiro pessoas sujas de terra correndo para fora, mancando e apavoradas. Depois, começou a sair gente ensanguentada, algumas com os ossos saindo para fora da roupa", conta.
Araújo disse ter entrado, então, para ajudar no socorro.
"Removemos parte dos escombros que estavam na praça da alimentação e passamos a enfileirar os corpos", relembra.
"Rapidamente, juntamos seis corpos ali. Eu consegui tirar duas pessoas com vida." Os corpos foram enrolados em plásticos.
O corretor Otávio José Rastelli, 34, com um enorme curativo na cabeça, disse que havia ido ao shopping pela primeira vez.
"Vim almoçar e estava andando perto do centro da explosão. Fui jogado longe e alguma coisa caiu na minha cabeça. Consegui levantar e sair correndo. Vi pelo menos duas crianças soterradas."
Rastelli deixou o carro no estacionamento do Osasco Plaza. Até o início da noite de ontem, ele ainda não sabia se seu carro, um Versalles, fora ou não destruído.
Explosão de luz
Maria Aparecida Rodrigues, 38, gerente da loja Café do Ponto, que ficava na praça de alimentação, disse que viu uma explosão "de luz" e que, depois, tudo escureceu.
"Não vi mais nada. Havia uma poeira negra no ar. Um funcionário meu me puxou pelo braço. Saímos pisando em escombros e em mortos. Estava saindo uma fumaça preta do chão também. Foram cenas assustadoras", diz ela.
O segundanista de enfermagem Dalton Luiz dos Santos, 17, saiu do shopping após a explosão, mas voltou para ajudar no resgate.
Ele conta que, apesar da experiência em hospitais que já tem, ficou chocado com as cenas que viu. "Os feridos e mortos tinham a cabeça amassada. Foi horrível."
Uma hora depois da explosão, familiares de funcionários do shopping começaram a chegar ao local -já isolado pelos bombeiros.
Andréia de Souza, grávida de seis meses, chorando, procurava o marido, Marcos Jorge, dono da lanchonete Natura. Ela o encontrou minutos depois, sem nenhum ferimento.
(Ricardo Feltrin e Rogerio Schlegel)

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