São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 1996
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Santa Genoveva transfere pacientes

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Pacientes da clínica Santa Genoveva estão sendo transferidos para a casa psiquiátrica Humaitá, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), que, segundo relatório da Secretaria Municipal de Saúde, oferece precário atendimento.
Um dos pavilhões da casa de saúde Humaitá -que pertence a um dos sócios da Santa Genoveva, Eduardo Espínola- foi comparado com o inferno descrito por Dante Alighieri em sua "Divina Comédia". Os 30 pacientes deste pavilhão foram encontrados nus.
Um estava defecando. Outro, deitado ao lado de fezes. "Ao entrar nesse lugar, a cena que se desvela é deprimente. Emanava um cheiro de fezes muito forte", diz o relatório, de dezembro de 95.
Há dez dias, o presidente do Sindicato dos Médicos, Luiz Tenório, visitou a Humaitá e ficou chocado. "Vimos um menino de 12 anos algemado. Ele só era solto para ir ao chuveiro." Tenório garante que, domingo, nove pacientes da Santa Genoveva, com quadros psiquiátricos, foram transferidos à Humaitá. Na segunda, Eduardo Espínola, sócio das duas clínicas, confirmou a transferência de seis.
Espínola negou as precárias condições de atendimento na Humaitá, dizendo que os pesquisadores que fizeram o relatório são inexperientes. O chamado "Censo da População de Internos nos Hospitais Psiquiátricos na Cidade do Rio de Janeiro" foi realizado em 20 clínicas -sendo 12 do setor privado. A Humaitá, segundo Tenório, foi colocada entre as quatro piores.
O relatório sobre a Humaitá registrou a existência de cerca de 450 pacientes do sexo masculino, de idade variada. Eram alcoólatras, autistas, neuropatas, entre outros.
O documento afirma que seria "injusto e inverídico" generalizar "a situação crítica" encontrada no pavilhão Lourenço Jorge para toda a instituição, mas diz: "A clínica parece proporcionar assistência com parâmetros mínimos de 'sobrevivência' a esses pacientes".
Os pesquisadores afirmam ter encontrado, entre outros pontos, um número insuficiente de funcionários para atender os pacientes e prontuários médicos com precárias informações.
Tenório criticou as autoridades públicas por permitirem a transferência para a Humaitá. Ele também criticou a Secretaria Municipal de Saúde por não ter divulgado publicamente o documento.
O secretário municipal de Saúde, Ronaldo Gazolla, se defendeu, afirmando que ainda não havia recebido o relatório final.
Para Tenório, os pacientes não poderiam ser transferidos sem a autorização da Secretaria de Estado de Saúde. O diretor do Departamento de Medicamentos da Coordenação de Fiscalização Sanitária da secretaria, Josias Acioli Ferreira, 45, disse que ainda não tinha confirmado as transferências.
Afirmou também que a Humaitá não havia sido inspecionada pela secretaria estadual e nem o seria nos próximos dez dias.
Segundo ele, a prioridade agora é fiscalizar 16 clínicas no Rio de atendimento geriátrico.

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