São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AUMENTOS INJUSTOS

A possível liberação do preço do gás de cozinha é coerente com a aposta no mercado para estabilizar a inflação. Supõe igualmente que a concorrência, e não o tabelamento, deve afinal estabelecer o preço adequado de uma mercadoria.
As correções prováveis, entretanto, mesmo que autorizadas apenas anualmente, constituem um fator de pressão sobre o custo de vida. Especialmente para a a população de baixa renda, comer fora ou dentro de casa poderá ficar mais caro. E, mais adiante, é evidente que haverá tentativas de repassar essas pressões nos momentos de negociação salarial.
O preço do botijão é baixo em relação ao gasto mensal de uma família de classe média. Mas é um item longe de ser irrelevante no estreito orçamento dos milhões de pessoas que vivem de um salário mínimo.
Os recentes reajustes de tarifas têm sido, aliás, especialmente duros para as famílias mais pobres. Não só porque os itens básicos consomem parte maior de sua renda, como também pelo fato de que alguns aumentos têm sido maiores exatamente para essas faixas de renda.
Em novembro último, a energia elétrica subiu proporcionalmente mais para as residências com consumo menor, chegando a 94,4% de aumento para as contas de até 30 kWh. Em São Paulo, a prefeitura promove esta semana alta da passagem de ônibus que assim custará 78% mais que o valor prévio ao Plano Real.
Quanto mais sobem os preços administrados, ademais, maior tende a ser o grau de recessão necessário para conter a inflação. Afinal, quando sobem os preços de combustíveis, por exemplo, há uma tendência ao repasse dos custos aos preços, se o mercado estiver aquecido. Evitar o crescimento torna-se uma forma de conter o potencial de inflação.
Por essas razões, parece conveniente buscar uma matriz energética atenta aos aspectos sociais, dosando os reajustes do gás à custa, por exemplo, do álcool e da gasolina, consumidos pelos mais ricos.

Texto Anterior: A TRAGÉDIA DE OSASCO
Próximo Texto: REFORMA AGRÁRIA A JUROS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.