São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 1996
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REFORMA AGRÁRIA A JUROS

A atual tendência de queda no preço das terras cultiváveis é mais um efeito da política de altíssimas taxas de juros. A crise agrícola não é apenas um problema de preços e safras, mas de perda patrimonial. O agricultor não tem apenas prejuízo. Seu principal ativo perde valor.
Segundo dados do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo, entre fevereiro de 95 e fevereiro último, o preço médio por hectare das terras de qualidade, corrigido pelo IGP, caiu 36,82% no Estado de São Paulo. No mesmo período, o hectare de terra destocada e mecanizada no Paraná registrou queda real de 33%.
Já vai longe a época em que se imaginava a especulação com terra como uma alternativa recomendável. De fato, dadas as grandes incertezas conjunturais do período da superinflação ou mesmo o medo de pacotes econômicos, pode ter sido interessante (especialmente do ponto de vista da segurança do patrimônio) comprar terras. A tradicional inoperância do Imposto Territorial Rural era outro estímulo indireto. Possuir terra, portanto, para cultivar ou não, era algo a considerar lado a lado com a poupança, os fundos de investimento ou a compra de dólares. Até mesmo por tradição já se considerou a terra um ativo desejável.
Com a inflação substancialmente contida por meio de juros altíssimos, porém, essa estratégia perde sentido. E dá margem até mesmo à redução da produção agrícola. Consequentemente, a possíveis pressões inflacionárias. Que o governo combate com juros altos, desestimulando o negócio com terras e nas terras, gerando menos oferta de alimentos, e assim por diante. Isso numa época em que se reconhece mundialmente uma escassez de oferta de alimentos.
Talvez haja apenas uma consequência "positiva" dessa queima de patrimônio. A se confirmar essa tendência, o próprio governo estaria desencorajando a manutenção de propriedades rurais improdutivas -talvez o principal fator de acirramento dos conflitos no campo no Brasil.
A reforma agrária pode assim ficar mais barata. Mas há um detalhe: os beneficiários deverão contentar-se no máximo com a subsistência, pois a atual política econômica faz do produtor rural uma vítima. O assentado não seria exceção nessa reforma agrária movida a juros escorchantes.

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