São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 1996
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Festa surpresa salva 30 estudantes

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma festa de aniversário para a professora evitou que pelo menos 30 alunos da escola estadual Antonio Raposo Tavares estivessem no shopping quando ocorreu a explosão, anteontem. O semáforo fechado da esquina, ao contrário, foi uma arapuca para três dos sete estudantes mortos.
Dois grupos de alunos do 2º colegial A deixaram a escola alguns minutos antes do sinal, que toca às 12h15. O portão da Raposo Tavares fica a dois minutos da entrada do Plaza. É o tempo que se demora para contornar os 40 m de muro pichados e atravessar o semáforo da r. João Batista.
O primeiro grupo, de quatro estudantes, passou pelo sinal vermelho, entrou no shopping e já estava quase do outro lado quando houve a explosão. Ninguém se feriu.
As cinco moças que esperaram o semáforo abrir foram pegas no "epicentro" da tragédia. Três morreram na hora -Rosileine, Tatiana e Andréia. Aline e Edna estavam bem ontem, mas em estado de choque.
"Eu tinha acabado de dizer tchau para elas e já soube que tinham sumido na explosão", conta a professora de português Lélia de Oliveira Teixeira, 42.
A sala da videoteca ainda está enfeitada com bolas coloridas para o aniversário da professora Ana Lúcia Batista, que completava 28 anos. A turma do 3º magistério A queria dar uma festa surpresa, e 30 das 39 alunas não foram tomar lanche no shopping.
Sheila Bianca, 20, e um grupo de amigas saíram para comprar refrigerantes e o bolo. "Passamos pelo banheiro do shopping e saíamos pela outra porta quando a explosão aconteceu", conta.
Sete amigas que foram tomar lanche ficaram feridas e estão internadas com fraturas.
O bolo foi esquecido na confeitaria. "Não vou ter saudades dessa data", diz a professora.
Ao meio-dia, quatro desaparecidos foram localizados. Todos vivos. Uma ferida e três outros em casa. Agora, são três desaparecidos e oito internados.
Junto à sala dos professores, onde está a lista dos mortos, uma bíblia está aberta no salmo 53, "O Inocente Perseguido".
Os professores acham que a tragédia poderia ter sido pior. Se o acidente ocorresse três minutos depois, as turmas barulhentas do colégio estariam chegando à praça de alimentação do shopping. Os mortos da escola poderiam ter sido 200.

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