São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Quando gente apodrece

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Já se sabe que o Proer (o programa de auxílio ao sistema bancário) permite que se separe a parte "podre" da instituição a ser comprada da parte, digamos, boa.
É um assunto que já foi arquidiscutido e não vale a pena, por isso, retomá-lo aqui. O problema, agora, é que ao menos em um dos casos (o da compra do Banorte pelo Bandeirantes), a parte "podre" inclui os funcionários do Banorte (cerca de 1.400).
Trocando em miúdos: o Bandeirantes não quer absorver os funcionários do banco que está comprando. Eles serão "liquidados" junto com o Banorte. Como diz Ricardo Berzoini, presidente dos bancários de São Paulo, "o ser humano virou parte podre".
Os profetas da eficiência, donos do mundo, dirão que o Bandeirantes não pode mesmo, sob pena de perder competitividade, recontratar todos os 1.400 funcionários do Banorte.
Admitamos que seja assim. Mas o que o Bandeirantes não tem o direito de fazer é impor critérios inaceitáveis para determinar quem, entre os funcionários do Banorte, pode ou não pode ser contratado.
Carta do Sistema Financeiro Bandeirantes ao gerente responsável pela integração das duas instituições manda eliminar já da pré-seleção para eventual contratação pelo banco qualquer funcionário do Banorte que goze de estabilidade provisória no emprego "por motivo de acidente de trabalho, gestação, pré-aposentadoria, Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), dirigente sindical e alistamento militar".
Ou seja, tudo aquilo que a legislação trabalhista assegura como direito é jogado no lixo. Se uma empresa qualquer agisse dessa forma, já seria chamada de politicamente incorreta, para dizer o mínimo.
Quando a empresa age dessa forma nos termos de um programa em que entra dinheiro do governo, não dá para dizer-se apenas o mínimo.

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