São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 1996
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Battle traz hoje sua voz delicada a SP

Soprano fará um único recital

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A soprano norte-americana Kathleen Battle, 47, fará hoje seu único recital em São Paulo, na temporada da Sociedade de Cultura Artística, com ingressos esgotados.
É a segunda vez que ela vem ao Brasil. Em maio de 1994, em duas apresentações no Teatro Municipal, reforçou a imagem de portadora de um dos mais belos timbres do mundo lírico contemporâneo.
No programa de hoje, ela interpretará árias ou lieder de Hãndel (1685-1759), Liszt (1811-1886), Wolf (1860-1903), Donizetti (1797-1848) e Strauss (1864-1949).
Kathleen Battle é uma confluência de três fenômenos: o artístico, o comercial e o de marketing.
Sobre o artístico, há pouco a acrescentar com relação a sua delicadeza como soprano lírico, à sutileza de seu fraseado e à naturalidade com que ela ultrapassa as duas oitavas próprias a seu registro.
Battle é a antítese perfeita das caricaturais sopranos "coloratura", senhoras obesas que parecem vomitar os bofes em seus trinados.
A dimensão mercadológica de sua carreira é mais sutil. Os conservatórios norte-americanos produziram em sua geração dezenas de outras vozes tão ricas, como Janine Altmeyer, Helen Donath, Arleen Auger ou Roberta Peters.
O segredo de Battle foi o de ascender a uma vitrina -o Metropolitan Opera House- que lhe deu maior visibilidade. No Met, aos 28 anos, teve como padrinho o diretor artístico, James Levine.
Nascida em Portsmouth (Ohio), estuda matemática na Universidade de Cincinnati. Mas decide retomar uma carreira de canto, iniciada em corais religiosos.
Canta profissionalmente pela primeira vez aos 24 anos, um "Réquiem Alemão", de Brahms. Seis anos depois, faz dois papéis secundários, já no Met. Obtém papéis mozartianos e straussianos na Europa (Salzburgo, Paris) e, em 1982, recebe em Nova York consagração de crítica como Rosina, em "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini.
Consegue, assim, entrar pela porta da frente no fechadíssimo clube dos grandes cantores. Torna-se paralelamente solista em concertos de orquestras de primeira linha e seu nome se associa ao de maestros como Karajan, Prévin, Abbado e Solti. O "círculo vicioso" se fecha com contratos de gravação assinados com a Deutsche Grammophon e a EMI.
A exemplo do que ocorre com o rock, a música clássica também possui seu "star system". Dentro dele, Kathleen Battle se tornou uma artista caríssima (US$ 100 mil por recital, segundo suposição generalizada) e de sucesso no mercado fonográfico.
Por fim, quanto ao marketing -seu esforço para se manter biograficamente diferenciada como "produto" -ela é a excêntrica, a malcriada (ver texto ao lado).

Recital: Kalthleen Battle (soprano)
Onde e quando: Teatro de Cultura Artística, hoje às 21h
Quanto:ingressos esgotados; R$ 20,00 para estudantes, meia hora antes do espetáculo

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