São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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Setores em crise dão apoio em silêncio

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários de diversos setores estão apoiando a greve geral do dia 21, organizada pela CUT, Força Sindical e CGT.
Na diretoria da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) há lideranças torcendo para que a greve dê certo, afirma Mario Bernardini, do Ciesp (centro das indústrias).
"Há simpatias por um protesto contra a política econômica", diz.
Segundo ele, empresários de setores que "não vão bem" -máquinas, têxteis, calçados, fundição, autopeças e forjaria- acham que o sucesso da greve pode fazer o governo "mudar alguma coisa".
Para ele, as empresas estão endividadas e devendo impostos e vão aproveitar pouco a recuperação econômica do segundo semestre.
Como a greve não é contra o setor empresarial, diz Bernardini, não há posição unânime sobre ela.
Werner Gerhardt, diretor da empresa de fechaduras Fama, por exemplo, acha que não é o melhor momento para uma greve.
Mas diz que "alguém tem de fazer algo para chamar a atenção do governo para o desemprego alto, consequência dos juros altos e da abertura indiscriminada". Ele tinha 990 funcionários na Fama, em São Paulo, em 93, e hoje tem 530.
"A maioria dos empresários do ABCD vai apoiar a greve, mas sem se pronunciar abertamente. Alguns até ligaram para o Vicentinho (presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva) comunicando o apoio", diz Luiz Marinho, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD (CUT).
"Os empresários apóiam a greve mas preferem não se pronunciar por medo de retaliação do governo ou até da Fiesp", diz Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical).
O presidente da Fiesp/Ciesp, Carlos Eduardo Moreira Ferreira, orientou as empresas a não pagarem nem o domingo aos grevistas.
Bernardini não vai seguir a orientação: vai descontar só a sexta-feira. Horácio Lafer Piva, diretor da Fiesp, não apóia a greve. "Ela não é oportuna." Mas diz ter dúvidas quanto ao desconto do descanso semanal remunerado.
Repor horas paradas
Com a Fama, a Força Sindical fechou acordo para repor as horas paradas.
"Geralmente metade do pessoal falta em dias de greve. Fica mais barato para nós não mandarmos os ônibus buscarem os trabalhadores em casa nem ligar os equipamentos na madrugada anterior", diz o diretor da empresa.
Segundo ele, o acerto com o sindicato é repor as perdas com o dia de greve, de cerca de R$ 200 mil, equivalente à produção de 15 mil a 20 mil fechaduras, com horas a serem trabalhadas aos sábados.
Em São Paulo, cem empresas já se comprometeram a não descontar nem o dia 21, afirma Paulinho.

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