São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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Quadro negro

GILBERTO DIMENSTEIN

Depois de quatro anos na pós-graduação de uma das melhores universidades americanas, Flávio Plentz voltou ao Brasil em outubro passado.
Candidatou-se, com sucesso, a uma vaga de professor de física na Universidade Federal de Minas Gerais e, agora, ganha menos do que um motorista de táxi em Nova York.
Descontados os impostos, ele vai embolsar R$ 1.800 mensais. Uma professora primária americana ganha, em média, R$ 3.000.
Plentz faz parte de uma lista de professores que enviaram críticas a esta coluna nos últimos três dias devido ao comentário publicado no domingo passado sobre a indecente onda de aposentadorias precoces.
"Se eu não tivesse marido, já teria me aposentado ou procurado outro emprego", relata Vera Menezes, ao informar que, depois de 28 anos na universidade, ganha R$ 2.000. "Fico revoltada quando vejo a campanha que você faz contra nós."
Compreensível a irritação de quem investiu pesadamente em sua formação e chega ao ponto mais alto da carreira com rendimento indigno. Concordo, é injusto.
Mas, independente de quem tem culpa pelos baixos salários, insisto: raros fatos são tão exemplares da deterioração moral brasileira como professores se aposentando jovens.
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Estudo da ONU publicado ontem mostra que, apesar de todos os avanços sociais, temos três "brasis" -um deles vivendo na África, um absurdo para quem atingiu o status de décima economia do mundo.
Ao absurdo do descompromisso das elites econômicas, soma-se a ofensa da elite intelectual. As universidades deveriam ser peça-chave contra a barbárie social.
As melhores faculdades do mundo estão nos EUA, os professores são disputados a tapa, morrem produzindo e transmitindo saber. Para completar, atraem a nata da ciência mundial.
Uma nação rica aposta em seus talentos e tenta usá-los ao máximo. Não tem lógica que um miserável país dispense seus poucos cérebros, que só chegaram aonde chegaram porque o contribuinte investiu em sua formação.
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Os EUA aprovaram extraordinária novidade que vai acabar chegando ao Brasil. O Congresso exige que as televisões exibam pelo menos três horas semanais de programas educativos para crianças.
Quanto mais rápido os meios de comunicação descobrirem que também têm responsabilidade educacional, menor será nossa África.
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PS - Os professores universitários merecem ganhar mais. Só que não teria sentido tirar dinheiro do ensino básico.
Há algumas saídas: buscar patrocínio na iniciativa privada, com a venda de serviços; cobrar mensalidades dos alunos mais ricos; cortar desperdícios e acabar com os cabides de emprego.

E-mail GDimen@aol.com.
Fax (001-212) 873-1045

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