São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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TCHECOSOTO

As disparidades sociais e econômicas entre as diversas unidades federativas do Brasil nunca foram segredo para ninguém. Da "locomotiva do país" aos "grotões da miséria", muitas imagens já foram criadas para ilustrar essas diferenças.
Agora, porém, o Brasil possui não apenas imagens, mas números que revelam em detalhe essas disparidades. É o relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado anteontem por uma agência da ONU e pelo Ipea.
E uma radiografia precisa que revele onde está o problema para aí então atacá-lo é um expediente básico conhecido por qualquer aluno de primeiro ano de medicina. O Brasil já tem essa radiografia, ainda que não muito nítida, uma vez que baseada nos dados do Censo de 91.
A existência do raio X é, contudo, a única boa notícia para o país. O IDH baseia-se em dados sobre renda, escolaridade e expectativa de vida. No geral, pioramos. O IDH de 95 foi de 0,804. O de 96 caiu para 0,797.
Esses números colocam o Brasil num patamar global médio. Em 95 foi o 63º dos 131 países analisados. O melhor IDH (Canadá) foi de 0,950 e o pior (Lesoto) de 0,473. Quando se regionaliza a questão, aí vem o susto. O Rio Grande do Sul tem a melhor taxa (0,871), comparável à de países como a República Tcheca ou ao rico Brunei e superior à média da América Latina (0,823). Já o pior Estado, a Paraíba, com seu 0,466, fica abaixo do Lesoto, o último colocado no ranking.
Em termos de América Latina, o Brasil tem uma renda "per capita" semelhante à dos países com melhor IDH. Perde em escolarização e expectativa de vida. E perde ainda mais no item distribuição de renda, no qual ocupa o último lugar em um ranking de 55 nações. Aqui, os 10% mais ricos ganham 30 vezes mais que os 40% mais pobres, contra uma média mundial de 10 vezes mais.
Se os números não dão motivos para comemorações, pelo menos o fato de pela primeira vez o país conhecer a fundo esses números é positivo.

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