São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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CONTRASTES

A recente e bizarra série de tragédias assistidas pelo Brasil nos últimos tempos, que vão dos massacres e chacinas às mortes de Caruaru e da clínica Santa Genoveva, passando pela explosão do shopping em Osasco e, agora, o incêndio na favela de Heliópolis, trouxe aos meios de comunicação o tema da impunidade.
E muitas vozes se ergueram contra a impunidade. Isso, como de costume, não redundou, infelizmente, em punições. Abrem-se sindicâncias, indiciam-se suspeitos, mas, no mais das vezes, ninguém responde por nada. Um contra-exemplo merece atenção. Ele ocorreu, obviamente, nos EUA.
O chefe da Administração Federal de Aviação daquele país anunciou que a empresa Valujet estava suspendendo "voluntariamente" suas operações depois que investigadores detectaram sérias deficiências em seu sistema de manutenção. Um DC-9 da empresa caiu há cinco semanas perto de Miami matando os 110 a bordo.
A Valujet, embora pouco conhecida dos brasileiros, é uma das mais importantes empresas de aviação que surgiu nos EUA depois da desregulamentação do setor. Sua característica era oferecer tarifas muito baixas.
Milagres, se existem, são raros. Para oferecer preços tão atrativos a empresa frequentemente recorria à fórmula fatal na aviação: aparelho velho mais piloto novo.
O contraste é notável. Nos EUA, apenas cinco semanas depois de um acidente, uma empresa bastante grande tem as suas atividades suspensas por falta de segurança; no Brasil, contam-se já meses desde o acidente que vitimou um dos mais célebres grupos musicais brasileiros (os Mamonas Assassinas) -o que causou comoção nacional- e até agora nada aconteceu.

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