São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 1996
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Em busca dos lolitos

MOACYR SCLIAR

Aos 63 anos, Rosendo não se importava que a mulher buscasse a companhia de homens mais jovens: afinal, tratava-se de uma quarentona fogosa. Também não discutia as preferências dela; lembrava aquele personagem de Nabokov que se apaixonara por uma ninfeta, Lolita, e dizia: minha mulher está em busca dos lolitos. Igualmente não se perturbava com a gozação dos amigos: é preciso ser tolerante, mesmo com as mulheres que nos colocam chifres, ponderava, em meio às gargalhadas dos amigos. Um santo, diziam alguns. Um corno manso, respondiam outros -a maioria, evidentemente. A ele, pouco se lhe dava tais opiniões.
Mas havia uma coisa que, esta sim, perturbava Rosendo. Os amantes da mulher tinham cada vez menos idade. No começo, eram os colegas de escritório dele, homens maduros, sérios. Depois, ela baixou para a fase dos trinta -e aí tinha uma predileção especial por esportistas, passando a frequentar estádios e quadras de tênis. Um pouco mais adiante, e lá estava ela, nas faculdades e nos centros acadêmicos, em busca de universitários. Quando chegou ao segundo grau, criou-se um problema: os pais do seu namorado, um garoto de quinze anos, ameaçaram denunciá-la por assédio sexual. Nem assim Rosendo se perturbou: esta gente, comentou com os amigos, não leu Freud, não conhece a força do complexo de Édipo.
Um dia, porém, ele chegou ao escritório completamente transtornado:
- Chega! Agora chega! Estou me divorciando!
E diante da insistência dos amigos, contou: a mulher dera para frequentar uma creche perto da casa deles. E falava com especial enlevo de um garotinho de cinco anos, uma doçura.
- O pior -arrematou Rosendo- é que ela agora resolveu se fantasiar, para impressionar melhor os meninos. Até orelhas do camundongo Mickey ela usa. E quer que eu use também -por solidariedade, segundo ela. Nunca, ouviram? Nunca! Chifres, sim. Orelhas do Mickey -jamais.

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