São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 1996
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Brasil teme 'efeito Peru' no feminino

Falta de renovação já preocupa

SÉRGIO KRASELIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O vôlei feminino brasileiro pode sofrer o "efeito Peru" se não forem adotadas soluções para a formação de atletas de base.
A previsão é do treinador da seleção brasileira juvenil, Wadson Lima. O "efeito Peru" mencionado por ele aponta para a crise que atingiu o vôlei feminino peruano.
Uma das forças do vôlei mundial nos anos 80 (medalha de prata na Olimpíada de Seul, em 88), o Peru, com a falta de renovação de suas atletas, acabou sem jogadoras de nova safra para substituir as integrantes da seleção adulta.
"O quadro já foi apontado para a Confederação Brasileira de Vôlei. Estamos com problemas de renovação", diz Lima.
Os números provam a tese de Lima. Em 89, a seleção juvenil revelou sete atletas que hoje defendem a adulta (veja quadro abaixo).
A equipe que se sagrou bicampeã mundial naquele ano tinha Fernanda Venturini, Hilma, Márcia Fu, Ana Flávia, Ricarda, Virna e Filó no grupo.
Dessas, apenas Ricarda não figura hoje na lista de convocadas do técnico da seleção adulta, Bernardo Rezende, o Bernardinho.
Já a seleção juvenil de 1991, vice-campeã mundial, revelou apenas Ana Paula e Leila, enquanto a seleção de 93 trouxe como revelação a atacante Fernanda Doval.
Para Lima, os dados embutem uma questão estrutural. Enquanto essas atletas, de alto nível, foram absorvidas pelos clubes e passaram a defender a seleção adulta, não houve um trabalho de base que favorecesse o surgimento de novos talentos.
"A base de formação do atleta sempre foi a escola e, em segundo plano, o clube. Agora, a situação mudou", afirma o treinador.
Problemas
Segundo Lima, os professores e técnicos são desestimulados profissionalmente e, se não houver uma formação adequada nas escolas, uma atleta com potencial será prejudicada no futuro.
Segundo o técnico, a profissionalização precoce das atletas do infanto é outro fator que impede que elas participem de todas as etapas necessárias à sua formação como esportistas.
"No fim, prevalece o marketing, que tem como filosofia o rendimento a curto prazo, não o investimento a médio e longo prazos", afirma Lima.
Para o treinador, desde 89 à frente da seleção juvenil, a receita para conter o "efeito Peru" é simples.
Deve-se repensar as aulas extracurriculares (treinamentos) e se adaptar à infra-estrutura da escola, transformando-a em um clube nos finais de semana.
"A persistir esse quadro, o marketing das empresas vai continuar a agir visando o rendimento a curto prazo. O modelo é excelente para a seleção de alto nível, mas ruim para quem deseja se tornar uma atleta no futuro", diz Lima.

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