São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 1996
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Descoberto lago gigante sob geleiras

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS; DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores confirmaram a descoberta do maior lago sob o gelo do mundo. O estudo é publicado hoje na revista "Nature".
O lago, apelidado Vostok por ficar sob a base de estudos russa na Antártida, tem 10 mil quilômetros quadrados, maior do que a maior lagoa do mundo, a lagoa dos Patos (RS), que tem 9.850 quilômetros quadrados.
A área equivale a quase sete vezes a área da cidade de São Paulo.
Segundo Gordon Robin, da Universidade Cambridge (Reino Unido), o Vostok "é um lago profundo, com cerca de 125 metros de profundidade (ou mais)" e está localizado a 4.000 metros sob a capa de gelo que cobre o continente.
O estudo mostrou que o leito do lago fica a cerca de 710 metros abaixo do nível do mar.
Os pesquisadores acreditam que o lago faça parte de um grande sistema hidrológico subterrâneo.
"Sabemos que existem outros 70 corpos d'água sob a capa de gelo que recobre o continente antártico", disse David Wynn-Williams, um dos autores do estudo.
Sonares e satélites
O lago de água doce já havia sido detectado por um sistema de sonar em 1974. Sonares usam ondas sonoras (som) para localizar a profundidade e estimar o tamanho de um corpo submerso.
Mas cientistas russos da Moscow State University e da Academia Russa de Ciências e pesquisadores britânicos de três instituições descobriram, por meio de análises de satélite, que o corpo d'água era 50% maior do que o esperado.
Segundo Charles Bentley, do Centro de Pesquisas Polares, tais lagos se formaram quando a parte de baixo das geleiras derreteram sob a influência do calor geotérmico, que vem do interior da Terra.
Os resultados do estudo mostraram que teria levado aproximadamente 1 milhão de anos para que a parte inferior da geleira começasse a derreter.
Microorganismos
O lago Vostok têm microorganismos que foram "carregados" para a Antártida em partículas de poeira.
Assim, os sedimentos que cobrem o leito do Vostok podem ter vários milhões de anos. O estudo desse sedimento pode ajudar os cientistas a entender como era a Terra no passado.
"O lago Vostok pode ser um habitat único para microorganismos primitivos, como bactérias", disse David Wyn-Williams, do British Antartic Survey.
Alguns cientistas acreditam que a pureza da água do lago Vostok pode ficar comprometida se os pesquisadores russos continuarem a perfurar a capa de gelo antártica. Os pesquisadores estão construindo uma estação meteorológica.

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