São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 1996
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RADICALISMO DO MST

A radicalização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é inaceitável politicamente, inócua para fazer avançar a política fundiária e irresponsável ao ferir os princípios elementares do Estado de Direito. A sucessão nada casual de invasões a sedes do Incra merece total repúdio. O MST evita o diálogo e dificulta a busca de soluções.
O movimento sindical sempre condenou a idéia de que a questão social devesse ser tratada como um caso de polícia. Espanta, por isso, que seja o próprio sindicalismo a pautar-se por estratégias antidemocráticas e ilegais, assumindo assim para si a condição de criminoso.
Afinal, reivindicar é obviamente legítimo desde que obedecendo à lei e ao Estado de Direito. Algo bem diverso é fazer reféns, desacatar (para não dizer agredir) funcionários públicos no cumprimento do dever e apossar-se de propriedades de terceiros, ao arrepio da lei.
O ministro da Política Fundiária, Raul Jungmann, está certo ao pedir punição para os transgressores.
Pode-se até mesmo dizer que já não há controle sobre o MST. Os partidos e instituições favoráveis à reforma agrária já não controlam o MST que, por sua vez, já não controla o próprio movimento pró-reforma agrária.
Antes tido como uma organização extremamente disciplinada e hierarquizada, o MST parece ter perdido o controle sobre os diversos grupos que atuam sob a sua bandeira. É uma situação que permite até mesmo a dúvida sobre o fato de tais grupos estarem de fato ligados ao MST ou agirem por conta própria.
A situação no campo no Brasil chegou a um ponto insustentável no qual o radicalismo de cada parte apenas faz aumentar o rancor da outra, criando uma insuportável espiral de violência cujo potencial ainda é desconhecido. Pôr um fim imediato a esse círculo vicioso é um imperativo.

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