São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 1996
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'A Malvada' descreve mundo de aparências

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Uma feliz coincidência faz com que o clássico "A Malvada" reestréie enquanto ainda está em cartaz o filme mais demolido do ano, "Showgirls".
Explica-se: o crítico Anthony Lane, da "The New Yorker", percebeu com muita pertinência que "Showgirls" é a refilmagem de "A Malvada" em versão topless.
A comparação revelará tantas semelhanças quanto disparidades. Uma semelhança importante é a idéia de arrivismo, lançada por Joseph L. Mankievicz em "A Malvada". Lá está Margo Channing (Bette Davis), estrela teatral que vive seu apogeu, isto é, está no limiar do declínio.
Lá está Eve Harrington (Anne Baxter), jovem candidata a atriz que idolatra Margo.
Mas essa paixão obsessiva não esconde seu objetivo, que é tornar-se, também, uma estrela. Ela chegará lá. O principal objeto de cena do filme é uma escada. Por ali se entra no palco. Por escadas também sobe-se e desce-se.
"A Malvada" tem um claro quê fatalista: observa o meio teatral como metáfora da mobilidade social, onde para que um suba na escala é preciso que outro desça.
Mas, no mundo do espetáculo, nunca estamos lidando com as pessoas propriamente ditas, mas com máscaras, silhuetas que se botam e se tiram conforme as exigências do momento.
Nesse sentido, "A Malvada" usa o meio teatral como paradigma. Seu discurso, preciso, constata que cada pessoa é, antes de tudo, aparência. Uma proposição que "Showgirls", sua releitura, torna bem mais angustiante: será que esse mundo de aparências ainda existe ou já entramos no registro da inexistência pura e simples?

Filme: A Malvada
Produção: EUA, 1950, 120 min.
Direção: Joseph L. Mankievicz
Com: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Thelma Ritter, Marilyn Monroe Quando: a partir de hoje, no Cinesesc

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