São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Malle tenta entender traição de Lacombe
INÁCIO ARAUJO
Os "colabôs" são as pessoas que, durante a ocupação da França pela Alemanha, na Segunda Guerra Mundial, ficaram ao lado dos nazistas e obtiveram vantagens. E, imbecil ou não, Lacombe Lucien foi um traidor e estava nesse caso. Mas, de 1974 até hoje (quando o filme reestréia com cópia nova), quanto mais se conhece a história da França na guerra, menos se sabe quem é quem. E esse é o aspecto que Malle sublinhou em seu filme: a culpa francesa na Ocupação é tão vasta, que o destino de um culpado específico não poderia expiá-la. Assim, o trajeto às cegas de Lacombe torna-se exemplar de um momento capital do século 20 (e não apenas francês). Hoje, é impossível fazer o inventário daqueles que, em um momento ou outro, estiveram próximos aos alemães ocupantes, ou ao governo títere de Vichy (nem sempre tão títere, se vasculharmos a história do seu líder, o marechal Pétain). Entre os colaboracionistas, Lacombe Lucien foi daqueles que ficaram até o fim. Em vez de condená-lo, Malle procura compreendê-lo e, através dele, à história de seu país naquele momento. Nem por isso, Lacombe Lucien deixa de ser uma abominação viva. Malle, porém, equilibra esses dois termos. O fato de ser abominável não torna seu anti-herói menos real e digno de ser, pura e simplesmente, execrado. É um ser das trevas, de uma época de trevas. Mas é delas que, em Malle, se nutre a busca da compreensão. (IA) Filme: Lacombe Lucien Produção: França, 1974, 135 min. Direção: Louis Malle Com: Pierre Blaise, Aurore Clement, Holger Lowenadler, Jean Bousquet Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco/sala 1 Texto Anterior: "Rosas" ensina o que não fazer em um filme Próximo Texto: 'A Malvada' descreve mundo de aparências Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |