São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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Areias do Nordeste 'escaldam' olímpicos

SÉRGIO KRASELIS
ENVIADO ESPECIAL A JOÃO PESSOA

O Nordeste brasileiro se transformou no celeiro do vôlei de praia do país.
Depois de explodir nas areias do Rio de Janeiro, nos anos 80, revelando atletas que chegaram à seleção brasileira, como Bernard, o esporte deixou o Sul e migrou para o Nordeste.
Com a decisão da Confederação Brasileira de Vôlei de realizar cinco etapas do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia, o esporte passou a atrair jogadores desses Estados.
Não à toa, Franco/Roberto Lopes e Zé Marco/Emanuel, as duas duplas representantes do Brasil em Atlanta, sedimentaram suas carreiras, respectivamente, no Ceará e na Paraíba.
Ambiente
Os quatro preferem ficar nesses Estados, que consideram parte integrante do que costumam chamar de a "Califórnia brasileira".
O apelido é justificado. À exemplo do estado norte-americano, com seu clima paradisíaco e onde se concentram os jogadores dos EUA, os estados nordestinos oferecem as condições ideais para o aperfeiçoamento dos atletas.
O sol, a temperatura média anual -próxima dos 26 graus Celsius-, o vento e as praias com areia fofa fazem do litoral nordestino o meio ideal para treinamento e surgimento das duplas.
"Inverno é uma palavra que não se aplica ao povo do Nordeste", diverte-se Zé Marco. Nascido na Paraíba, há 25 anos, ele "importou" do Paraná o parceiro Emanuel, que está radicado em João Pessoa desde 1994 (leia texto abaixo).
Ascensão
Na visão do jogador, cuja dupla é a segunda do mundo, a possibilidade de ascender socialmente fez com que muitas pessoas começassem a ver o vôlei de praia como uma carreira profissional.
"Os atletas nordestinos têm muita raça e força de vontade devido aos seus Estados não serem muito ricos. E eles vêem no vôlei de praia uma maneira de subir na vida", afirma ele.
O predomínio das duplas nordestinas pode ser comprovado pelo ranking brasileiro.
"O pessoal, aos poucos, vai se acostumando com a idéia de o nordestino se sobressair no vôlei de praia", diz Roberto Lopes, que forma com Franco a dupla número um do ranking mundial.
Como a dupla da Paraíba, que se divide em treinos diários que chegam a somar sete horas, Roberto Lopes e Franco também passam a maior parte do tempo nas praias de Fortaleza.
Fama
Heróis locais, os dois, juntos há nove anos, formam a dupla de maior longevidade do vôlei de praia brasileiro.
"Decidimos não sair do Ceará, porque no Nordeste somos carentes de ídolos. Não só no cenário esportivo, como também no político. Geralmente quem se dá bem quer ir para o sul", analisa Franco.
Com a expectativa de conduzir o Brasil ao pódio olímpico em Atlanta, os dois atletas cearenses puderam comprovar a fama durante a realização da etapa do Circuito Mundial, disputada em João Pessoa, em maio.
Reconhecidos nas ruas da capital paraibana, distribuíram autógrafos e camisetas.
O local Zé Marco, que costuma treinar na praia de Tambaú, diz que o preço da fama também traz a invasão da privacidade.
"Mas não troco João Pessoa para viver em uma cidade grande. Gosto de ter o mar perto e também de ter sol para treinar", disse.

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