São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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Bomba criou os "sem-ilha"

DA REPORTAGEM LOCAL

Sem casa, com fome e com tumores. Foi assim que as explosões de Bikini deixaram habitantes da República das Ilhas Marshall, um arquipélago no Pacífico, independente desde 1982.
Depois de saírem da igreja, num domingo de fevereiro de 1946, os bikinianos foram avisados pelo governador militar americano das Marshall que eles perderiam suas casas para uma experiência "para o bem da humanidade e para o fim de todas as guerras".
Em março, os 167 habitantes da ilha começaram a mudar para o atol de Rongerik. O lugar era inabitado, pois os bikinianos acreditavam que ele era dominado por maus espíritos e que não tinha comida suficiente. Quanto à comida, pelo menos, estavam certos. Por causa da fome, tiveram de mudar duas vezes em 1948.
No final da década de 60, os EUA declararam Bikini segura. Algumas pessoas começaram a voltar ao atol.
Em 1977, testes nos bikinianos que estavam havia um ano na ilha mostraram que havia aumentado em 75% o nível de césio-137 (elemento radioativo) em seus corpos. Mudaram de novo. Dois anos depois, começaram um processo contra os EUA, que acabaram instituindo fundos de reparação para os bikinianos.
Seus vizinhos dos atóis de Utirik e Rongelap também foram afetados. Na explosão de 1954 em Bikini, os americanos calcularam que o vento levaria a nuvem radioativa para o norte. Ela foi para o leste, para os atóis. As cinzas "choveram" sobre os ilhéus. Cerca de um quinto deles desenvolveu tumores na tireóide. Hoje, cada tumor vale US$ 25 mil de indenização.

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