São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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As ilhas do ecoturismo radioativo

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hoje já é possível mergulhar nas águas de Bikini sem sofrer os efeitos da radiação. Ironicamente, o ecoturismo está sendo considerado a melhor opção para o desenvolvimento econômico da ilha.
Uma equipe brasileira esteve em Bikini checando os navios afundados na laguna -a primeira a fazê-lo antes do início da exploração comercial dos destroços num futuro parque marinho subaquático.
O risco de radiação hoje praticamente só existe, e não é alto, para quem comer algumas dúzias dos cocos da ilha, ou para quem resolver chafurdar por muito tempo nos sedimentos marinhos cheios de plutônio no fundo da laguna.
Visitar os navios só não é considerado totalmente seguro porque isso não existe nesse tipo de atividade. Um relatório americano de 91, baseado em mergulhos feitos por arqueólogos, revelou que a radiação é muito baixa nos navios.
Segundo os brasileiros, o mar azul, a areia branca e a vegetação, hoje exuberante apesar de geométrica replantada, causam euforia no primeiro dia de visita a Bikini.
A viagem se transformou em parte de uma série de filmes -"Dive Adventures"- que está sendo exibida desde ontem no canal de TV paga GNT, às 22h20. O mergulhador e cinegrafista submarino Lawrence Wahba, conhecido por nadar em meio aos tubarões, dirigiu os filmes.
A vida marinha -incluindo muitos tubarões- teve pouco contato com seres humanos nos últimos 50 anos, o que fascina os mergulhadores. Mas aos poucos eles percebem o silêncio "melancólico" da ilha, que voltou a ser habitada por poucas pessoas.
Apesar de a imprensa de 1946 ter dado pouco destaque à radiação, ela foi a grande vilã dos animais largados na ilha (cartas em jornais da época se indignavam com o uso das cobaias. Algumas sugeriram usar como alvo criminosos de guerra alemães e japoneses).
Os EUA tentou descontaminar muitos dos navios que continuaram flutuando. Alguns estavam tão "quentes" que tiveram de ser afundados em águas profundas.
Mesmo os navios que não eram alvos, pois estavam ali para dar apoio aos testes, tiveram que passar por algum tipo de descontaminação. "Able" e "Baker" foram complementadas depois por bombas bem mais poderosas. O teste "Bravo", de 1954, envolveu uma bomba de hidrogênio de 15 megatons -isto é, 15 milhões de toneladas de TNT, uma bomba 750 vezes mais potente que as anteriores.
(RBN)

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