São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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EUA usaram cobaia humana

DA REPORTAGEM LOCAL

As experiências nucleares americanas não se limitaram a testar os efeitos da bomba sobre navios de guerra, cabras e porquinhos-da-índia, como foi o caso da explosão de 1º de julho em 1946, em Bikini.
A Segunda Guerra Mundial ainda não tinha terminado, nem Hiroshima e Nagasaki haviam sido destruídas por bombas atômicas quando cientistas americanos começaram, por exemplo, a injetar elementos radioativos como plutônio e urânio em cobaias humanas.
Objetivo: descobrir a quantidade de radiação necessária para incapacitar fisicamente um indivíduo.
"Temos de admitir que isso parece Buchenwald", escreveu em 1945 um cientista americano que participava dos testes, referindo-se às "experiências" praticadas no campo de concentração nazista.
A pesquisa era feita por grupos subordinadas à Comissão de Energia Nuclear e ao Projeto Manhattan, o programa que desenvolveu a bomba atômica.
A história desses testes foi esclarecida a partir de 94, quando o presidente Bill Clinton criou um comitê de investigação. O inquérito ficou pronto em 95. São 925 páginas que contam três décadas de horrores.
As cobaias preferidas eram prisioneiros, pobres, militares ou pessoas com mais de 45 anos vítimas de alguma doença que deveria matá-las em menos de uma década. Assim, os efeitos da radiação não apareceriam antes da morte deles.
O acidente causado pela explosão de 1952 em Bikini, em que uma nuvem radioativa "choveu" sobre ilhas habitadas, também serviu como objeto de estudo.
Um cientista disse, em 1956, que essa chance não deveria ser desperdiçada. Não havia nenhum outro lugar tão contaminado e, apesar de "aquela gente não viver como os ocidentais, eles estavam mais próximos de nós do que os ratos de laboratório".

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