São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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Europa busca sua identidade militar

Países avançam frente ao poderio dos EUA

IGOR GIELOW
DE LONDRES

Os países europeus, que somam 14 dos 16 membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), querem uma nova identidade militar -dentro ou fora da entidade.
A Otan foi criada em 1949 para estruturar a Europa Ocidental contra o "perigo vermelho", que tomou corpo numa entidade semelhante, o Pacto de Varsóvia (1955) da União Soviética.
Após 1989, com a queda do comunismo do Leste Europeu, começou a se discutir o que fazer com a Otan.
Com o fim da URSS, em 1991, a pergunta ficou mais evidente -em face, talvez, dos quase US$ 400 bilhões anuais colocados à época na Otan pelo seu parceiro mais forte, os EUA.
Os gastos foram sendo cortados -hoje os EUA gastam US$ 280 bilhões anuais. Ainda assim, 35% do material de defesa consumido na Europa vem dos EUA.
Só na semana retrasada, porém, começou a haver uma definição do papel da Europa nesta história.
Há duas opções. Uma passa pela UEO (União Européia do Oeste), organização de dez países europeus que comungam políticas de defesa externa em um fórum desburocratizado -a presidência é rotatória e há apenas 150 funcionários, baseados em Bruxelas.
Em março de 1995, a UEO definiu que seus integrantes iriam desenvolver o programa do Eurocorps, da Força Multinacional do Sul Europeu e o satélite Hélios.
O Eurocorps é uma força expedicionária formada por oito comandos mobilizáveis em Exércitos da UEO. A Força Multinacional do Sul Europeu reúne 15 mil soldados da Espanha, França e Itália, e o satélite Hélios, francês, é de reconhecimento militar.
Essas iniciativas, assim como os projetos conjuntos do Eurofighter (caça que poderá estar operacional no ano 2000) e do Eurocopter (helicóptero que já está pronto em sua versão Tiger), dão uma "cara européia" à defesa continental.
Mas a Otan é ainda a grande "espada" na Europa. A impotência da diplomacia européia e da ONU na Bósnia levou à ação dos EUA.
"Quando foi realmente necessária uma intervenção para resolver o conflito, chamaram as forças profissionais dos EUA e do Reino Unido", disse o diretor-assistente do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, Terence Taylor.
Atualmente, segundo o instituto, tomam curso reestruturações grandes nos Exércitos alemão e espanhol. O processo francês está adiantado. O Reino Unido é o paradigma de todos os casos.
"Sem uma força realmente eficiente, fica difícil. É mais caro manter uma reserva mal-treinada", diz o economista Digby Wallen, especialista em defesa que trabalha no instituto.
União
Na conferência da Otan em Berlim, no início de junho, discutiu-se a união da Otan com a UEO.
Pode ser a saída mais eficaz para a questão, que vai se complicar mais com o sinal verde dado pela Rússia para o alargamento da Otan para o Leste Europeu.
Desde 1989, Polônia, República Tcheca e Hungria já batem na porta da Otan. Há medo de nova ameaça vindas da instável Rússia e a vontade de integrar um clube seleto e suas vantagens diplomáticas.
Em 1994, foi lançada a paliativa "Parceria pela Paz", uma sociedade de 27 membros (inclusive a Rússia) que visa unir algumas política militares em casos de defesa da paz -como na Bósnia.
Porém, há mais gente na fila. Resta saber se a Otan vai colocar a diplomacia e a vida de seus soldados em risco na defesa de Riga, capital da Estônia, durante um hipotético ataque russo.

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