São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996
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Surgem os "eurohistéricos"

IGOR GIELOW
DE LONDRES

A "guerra da carne", em tese encerrada anteontem, revelou uma nova classificação política no Reino Unido: o "eurohistérico".
Sucessor mais radical do já consagrado "eurocético", o jargão é usado para definir os políticos que, além de serem contrários à UE (União Européia) por a considerarem nociva ao país, vêem uma ameaça real do outro lado do canal da Mancha.
"Foi absurda a posição alemã durante o veto à carne britânica. Isso tudo é muito mais do que simples contestação científica", diz o deputado Bill Cash, líder da bancada "eurocética" do Partido Conservador, que já está sendo chamado na imprensa britânica pela nova designação.
O discurso é simples, amparado em realidades econômicas relativas. Os "céticos" e "histéricos" prevêem desemprego em massa em uma Europa unida. Hoje, o Reino Unido tem desemprego na casa dos 7,5%, contra uma média européia superior a 12%.
Mas estudo da Comissão Pró-Europa, grupo parlamentar a favor da UE, diz que a o Reino Unido pode perder mais de um terço de sua competitividade comercial por não se alinhar com a união monetária. E isso significaria, então, mais desemprego.
A "eurohisteria" ganhou as páginas de jornal quando John Major "declarou" sua guerra contra o embargo à carne. "Major vai à batalha, enfim", disse o "The Sun".
Até o líder da oposição e favorito ao cargo de Major no ano que vem, Tony Blair (Partido Trabalhista), saiu em defesa do "interesse britânico" -provavelmente prevendo perda de votos para Major. Voltou atrás, depois, quando viu o estrago à imagem do país.
Para o deputado John Redwood, um dos candidatos ao espólio de Major no caso da perda do poder pelo Partido Conservador, o problema também é social.
Ele argumenta que a UE "quer um Estado enorme", no qual será impossível controlar criminalidade e imigração do Leste Europeu e Norte da África.
Mas esse pode não ser o principal problema.
Há dez dias, Philip Wester, 77, esperava o metrô na estação de Earl's Court, sudoeste de Londres.
Lembrou da Batalha da Inglaterra, quando a Alemanha nazista atacava diariamente a capital britânica com bombardeiros. "Não há mais nazismo, mas daí a deixar eles mandarem no dinheiro que eu uso há um abismo", disse.
(IG)

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