São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Força ou arte?

JUCA KFOURI

Três representantes do chamado futebol-força para lá, apenas um do futebol-arte para cá. Bola por bola seria mais justo se a Espanha fosse a segunda representante do jogo habilidoso, tantas foram as chances desperdiçadas contra a Inglaterra.
Mas, na hora "H" do goleiro diante do pênalti, a frieza anglo-saxã falou mais alto que o sangue quente latino.
E que bela semifinal! Trinta anos depois, Inglaterra e Alemanha voltam ao santuário de Wembley para reviver a decisão da Copa de 1966, decidida a favor dos donos da casa por uma bola que não entrou.
A Alemanha perdeu Klinsmann, mas não o velho jeito de jogar para vencer, como, novamente, mostrou contra a Croácia, muito mais vistosa e muito menos eficaz.
Fria, determinada, batendo até um pouco mais que normalmente, a equipe alemã terá pela frente a também pragmática escola inglesa, raramente capaz de um brilho, mas sempre determinada e com o apoio de seus fanáticos torcedores. E ganhar dos alemães é tudo que os ingleses sempre querem.
A tradição indica a Alemanha, o fator campo aponta para a Inglaterra, e o futebol que estão jogando torna o empate o resultado mais provável.
Seja como for, pobre do Zagallo se fosse ele o treinador de uma ou de outra. Estaríamos todos à beira de um ataque de nervos. Na outra semifinal, a França representa a arte, embora o gol mais bonito desta Eurocopa tenha sido feito pelo tcheco Poborsky.
Se o time francês não é tão espetacular como aquele dos anos 80 que tinha Giresse, Tigana, Fernandes e o príncipe Platini, sua campanha até aqui o habilita a ir à final. Não foi brilhante contra a Holanda, mas mereceu vencer antes mesmo dos penais, quando, só para contrariar, o sangue latino derrotou o bagaço da Laranja Mecânica.
Já a República Tcheca pagou um preço alto pela ousadia de desclassificar a Pátria Mãe. Enfrentará a França sem quatro titulares, embora com o moral elevado pela façanha diante do alegre futebol lusitano. Tão alegre que se esqueceu de liquidar o jogo ainda no primeiro tempo, quando deu um vareio de bola.
Em resumo, não faltarão emoções nesta quarta-feira das semifinais. A dúvida é se haverá aquele futebol que vivemos cobrando da nossa seleção, mas que, infelizmente, não se vê mais em lugar nenhum, no mínimo, desde o time de Telê Santana em 1982.
Quando, por sinal, a Itália foi a campeã. E Parreira está lá, anotando tudo...

Texto Anterior: Preconceito divide a Holanda na Eurocopa
Próximo Texto: Zagallo define lista extra em amistoso
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.