São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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Proer enche o BC de moedas 'podres'

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O programa de fusões bancárias está transformando o Banco Central no maior proprietário de moedas "podres" do país.
Como os empréstimos do Proer -nome oficial do programa- podem ser pagos com títulos sem valor de mercado, o BC tem a perspectiva de acumular R$ 13,2 bilhões na forma desses papéis.
É quase a metade do volume de moeda "podre" em circulação no país -R$ 28 bilhões, segundo dados do governo e do mercado.
Na prática, desde novembro, quando o Proer surgiu, o BC está promovendo uma "limpeza" inédita na contabilidade dos bancos.
Cerca de 60% dos recursos desembolsados pelo programa de fusões são usados para comprar com desconto, junto a outros bancos, os títulos que servirão para pagar o dinheiro emprestado.
Como os títulos "podres" representam dívida da União de longo prazo, em geral já com pagamentos atrasados, a operação significa que o governo está quitando com desconto essa dívida.
Se isso é um bom negócio ou não, depende do desconto obtido na compra de cada título -o que não é revelado pelo BC.
Adesão
Os bancos têm tido interesse pela operação. Segundo a Folha apurou, todos os maiores bancos privados já venderam títulos "podres" ao BC.
Isso pode ser comprovado pelos valores documentados pelo BC. Eles mostram que as moedas "podres" mais negociadas no Proer são os chamados créditos contra o FCVS, que somam R$ 17 bilhões.
O FCVS (Fundo de Compensação das Variações Salariais), de responsabilidade do Tesouro Nacional, cobre os subsídios concedidos pelos bancos nos financiamentos habitacionais.
Só no empréstimo de R$ 5,898 bilhões ao Banco Nacional, o BC recebeu R$ 6,6 bilhões em créditos contra o FCVS (o valor de mercado é inferior a essa cifra).
Juntando-se as outras quatro operações, o BC ficou com pelo menos R$ 11 bilhões nesses créditos -praticamente não há mais FCVS nos bancos privados.
Nos relatórios que o BC envia ao Senado sobre o Proer, estão contabilizados os valores globais recebidos em títulos "podres". Na maioria dos casos, não se especifica quanto foi negociado na forma de cada papel.
Os papéis já entregues ao BC, além do FCVS, incluem avais da Sunaman, TDAs (Títulos da Dívida Agrária), debêntures da Siderbrás e títulos da Eletrobrás.
Ações
Além de moeda "podre", o BC tem recebido bens como ações e imóveis. Em troca de um empréstimo de R$ 391 milhões ao Banco Econômico, por exemplo, recebeu ações da Açominas e da Conepar pelo valor de R$ 469 milhões.

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