São Paulo, terça-feira, 25 de junho de 1996
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Ziuganov quer governo de união nacional

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O candidato neocomunista na eleição presidencial russa, Guennadi Ziuganov, propôs ontem a formação de um governo de união nacional para evitar que o país "entre em colapso".
Ziuganov enfrenta o presidente Boris Ieltsin no próximo dia 3, no segundo turno da eleição. Na votação realizada em 16 de junho, Ieltsin obteve 35% dos votos, contra 32% do neocomunista.
Pesquisa divulgada domingo mostrou que Ieltsin conta com 53% das intenções de voto, contra 34% de Ziuganov.
O presidente russo já conseguiu o apoio do general da reserva Alexander Lebed e do economista Grigori Iavlinski, que tiveram no primeiro turno 15% e 7% dos votos, respectivamente.
Ziuganov não conseguiu atrair nenhum apoio novo para o seu "bloco popular-patriótico", que é liderado pelos neocomunistas e ataca as reformas pró-capitalismo de Boris Ieltsin.
"A Rússia atravessa uma situação séria", disse Ziuganov. "Nenhuma força política está em condições de predominar."
Ieltsin não reagiu à proposta de governo de união nacional. Deve recusá-la, pois nunca indicou disposição para negociar com os neocomunistas.
Iavlinski rejeitou a proposta neocomunista e disse que Ziuganov será derrotado no segundo turno.
Ziuganov propôs a criação de um governo modelado a partir do resultado da eleição parlamentar de dezembro, de 1995, quando os neocomunistas conquistaram a maioria na Duma (câmara baixa do Parlamento).
Ziuganov apresentou uma lista com nomes que comporiam um "conselho de concórdia nacional". Um terço dos integrantes do conselho seria indicado pelo atual governo, um terço pelo "bloco popular-patriótico" e um terço pelos outros partidos com representação na Duma.
Depois da eleição, o "conselho de concórdia nacional", através de emenda constitucional, se transformaria num "conselho de Estado". Ou seja, teria poderes para governar o país, enfraquecendo o presidente.
Ieltsin, que implementou um regime presidencialista e centralizador, rejeita idéia neocomunista de enfraquecer o poder executivo. Mas já falou em mudar o governo depois das eleições.
Mudanças no governo compõem a lista de condições apresentada por Iavlinski para apoiar Ieltsin. O economista pró-reformas também quer que Ieltsin acelere o processo de pacificação na região separatista da Tchetchênia.
Mas as mudanças no governo já começaram semana passada, com a indicação de Alexander Lebed para o cargo de secretário do Conselho de Segurança.
O general defende um nacionalismo moderado e prioriza combate ao crime e à corrupção.
A aliança com Lebed levou Ieltsin a demitir o ministro da Defesa, general Pavel Gratchev.
As mudanças prosseguiram com afastamento de três integrantes do governo -um vice-premiê e os chefes do Serviço de Segurança Federal (ex-KGB) e da segurança do presidente. Rivais de Lebed e Iavlinski também eram acusados de se oporem às reformas.

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