São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Gravação pode mudar rumo da investigação das mortes

Namorada de PC ligou 3 vezes a dentista na noite do crime

DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA

Um dentista de Santo André (Grande São Paulo) revelou ontem a existência de uma fita com gravações de três ligações que teriam sido feitas pela namorada de Paulo César Farias, Suzana Marcolino da Silva, entre 3h54 e 5h01 de domingo, dia das mortes.
"Eu nunca vou esquecer você. Em algum lugar, no outro mundo, eu encontro você", diz a voz que seria de Suzana, na gravação.
As mensagens foram gravadas no serviço de caixa postal (espécie de secretária eletrônica) do telefone celular do dentista Fernando G. Colleoni, 29.
A fita com o registro das ligações foi entregue pelo dentista ontem, às 15h, ao delegado Naief Saad Neto, do 30º DP, em São Paulo.
Segundo o delegado, as chamadas foram feitas às 3h54, 4h58 e 5h01. PC foi encontrado morto por volta das 11h em sua casa na praia de Guaxuma, Maceió (AL).
Análise
A Polícia Federal e a Polícia Civil de Alagoas informaram ontem que vão requisitar para análise técnica as gravações com as mensagens.
Na primeira ligação, Suzana apareceria sussurrando no telefone, e seria possível ouvir uma voz ao fundo falando com ela.
Não é possível identificar se a voz é de PC. "Essa voz diz: 'o que cê tá fazendo? Te arruma, te arruma'. Depois, ela desliga o telefone", disse o delegado. Antes, Suzana teria respondido: "Me arrumo".
Na segunda ligação, Suzana teria deixado um recado de amor para Colleoni no mesmo teor do terceiro recado, três minutos depois, às 5h01.
Colleoni disse que Suzana havia ido ao seu consultório na quinta-feira passada. Na sexta-feira, os dois se encontraram novamente no consultório e, à noite, foram ao restaurante Carlota, em Higienópolis (região central).
Em depoimento no 30º DP ontem à noite, Colleoni disse que "não conversou nada demais" com Suzana no jantar.
"Não conversamos nada importante, nada demais. Ela não me deu abertura nenhuma."
No final da noite, por volta das 3h, Colleoni levou Suzana à casa da tia, Maria José Rosembaum, em Santo André. "Trocamos apenas beijinhos de despedida", disse no depoimento. "Não houve intimidades, só amenidades."
Durante o jantar, Colleoni disse que Suzana perguntou a ele se tinha namorada. Respondeu que não e perguntou se ela tinha. Colleoni afirmou que ouviu como resposta: "Tenho um namorado, mas não é nada sério".
Apesar disso, Colleoni afirmou que sabia, desde o dia anterior, que Suzana namorava PC Farias.
O dentista afirmou que fez limpeza nos dentes de Suzana na quinta-feira e radiografia na sexta. No sábado, ligou para Suzana em Maceió, enquanto ela estava no cabeleireiro, para dizer que já tinha seus exames prontos.
Suzana ficou de voltar a São Paulo em 15 dias. Segundo Colleoni, ela chegou a seu consultório indicada por um irmão dele que mora em Maceió e que conhece uma amiga de Suzana, Andrea, da mesma cidade.
Colleoni disse que, no sábado, viajou para Ibiúna. De volta no domingo, foi comunicado pelo irmão da morte de Suzana e PC. Checou os recados na caixa postal do celular e ouviu as mensagens de Suzana.
Ela pagou uma conta no dentista de R$ 220 com um cheque do Banco Rural, agência de Maceió (AL). O cheque foi depositado pelo dentista e devolvido na sexta-feira por falta de fundos.
Na última terça-feira, o cheque foi reapresentado e novamente devolvido. O banco alegou que a conta havia sido encerrada.
O delegado Saad Neto afirmou que pretende enviar a fita para o Instituto de Criminalística de São Paulo para análise.
Colleoni foi ao distrito policial, em São Paulo, aconselhado por um amigo seu que também conhecia Saad.
O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, disse que solicitou ontem à noite cópia da fita.
Ele acredita que um exame magnético de voz poderá ser "uma ótima pista" para verificar se havia outras pessoas falando enquanto Suzana conversava ao telefone.
"Se a gravação captou a voz de mais alguém, isso poderá indicar se o PC Farias estava vivo ou morto", disse Chelotti à Folha.
O diretor-geral da Polícia Federal não sabia da existência da gravação. "Isso me surpreendeu muito", disse Chelotti.
Ele afirmou que pedirá a realização do exame com urgência e, em seguida, o enviará à polícia de Alagoas.
O delegado Cícero Torres, que preside o inquérito em Maceió, afirmou que vai requisitar a fita, para checar se a voz é realmente de Suzana. Ele quer que a fita passe a ser peça do inquérito, mas foi cauteloso. "Não quero fazer avaliações precipitadas sobre o grau de importância da fita nas investigações."

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