São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Paris recebe dor e arte de Francis Bacon

França ganha retrospectiva

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

As figuras humanas deformadas do pintor irlandês Francis Bacon (1909-1992) estão expostas desde ontem em uma retrospectiva no Centro George Pompidou, em Paris. São 79 pinturas -sendo 16 grandes trípticos-, sete obras sobre papel -sendo quatro inéditas.
A exposição apresenta os diferentes períodos da obra do artista, dos anos 30 até sua morte, de uma forma didática e respeitando a sequência cronológica.
O início da mostra exibe seis obras concebidas antes da Segunda Guerra Mundial que não foram destruídas por Bacon -que renegou a produção de sua juventude.
As últimas salas são dedicadas aos grandes quadros e os trípticos da fase final de sua vida.
A exposição é considerada a mais importante retrospectiva da obra do pintor nos últimos dez anos. Levando em conta que a última grande mostra foi realizada na Bienal de Veneza em 1993.
Sete ensaios estão sendo publicados ou relançados na França aproveitando o evento.
Para se ter uma idéia de como a importância de Bacon transcende o campo artístico, o próprio presidente francês, Jacques Chirac, inaugurou a exposição, que fica em cartaz até 14 de outubro.
Considerado o maior pintor britânico do século 20, Bacon retratava a angústia humana e tinha, como um dos objetivos confessos, "atingir o sistema nervoso".
Não é uma obra facilmente palatável. "Gostaria que meus quadros dessem a impressão de que um homem se introduziu sorrateiramente, como um escargot, deixando um rastro de presença humana e de lembranças de fatos passados, como o escargot deixa seu rastro de baba", afirmou.
O "rastro de baba" de Bacon arrebatou numerosos, e significativos, admiradores. O filósofo Gilles Deleuze, por exemplo escreveu um ensaio sobre o pintor. O escritor tcheco Milan Kundera também. Não foram os únicos.
"Francis Bacon é, com Picasso, o maior pintor do século 20, um século que se superou em massacres, torturas, horrores", afirmou o escritor Philippe Sollers, um dos principais nomes da literatura francesa contemporânea, autor de "As Paixões de Francis Bacon".
Para Sollers, o trabalho de Bacon só pode ser entendido com a ajuda da "grande poesia", na Tragédia grega e na obra de Shakespeare.
Com certeza, o pintor foi influenciado pela literatura: por "Oréstia", "Macbeth", "Fedra", "A Comédia Humana", "Em Busca do Tempo Perdido".
Em suas obras, ele tentou transpor para a tela as dimensões trágicas da literatura.

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