São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Revista ensina a plantar maconha on line

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dos símbolos da contracultura norte-americana entra em nova fase. A "High Times", revista fundada em 1974, está na Internet divulgando novas técnicas de cultivo de maconha, receitas culinárias e a cotação mensal da droga.
Depois de alertar que o web site só pode ser visitado por maiores de 21 anos, há as boas vindas: "Finalmente um lugar onde você pode relaxar e curtir a atmosfera". Segundo o editor-executivo Peter Gorman, aproximadamente 1 milhão de pessoas visitam por mês o site www.hightimes.com.
Nele, é possível ler artigos da revista, comprar livros, vídeos e roupas da grife High Times e inscrever-se na 9ª Copa Anual de Cannabis, a ser realizada na Holanda.
Dentro do princípio de desobediência civil que sempre pautou a revista, há dicas de como passar nos testes de análise de urina (muitas empresas exigem teste antidoping do candidato a emprego.
Há ainda análise das leis antidrogas, que variam nos 50 Estados norte-americanos, e sugestões de como não ser pego.
Outra dica ao "usuário prudente", segundo o site, é não deixar nada incriminador no lixo, especialmente sementes, nem permitir uma busca policial sem mandado.
É possível, também, saber a cotação de várias drogas. Os tipos de maconha mais oferecidos são "buds", "dark green", "mexican", "jamaican" e "skank".
As hidropônicas (cultivadas na água) custam cerca de US$ 10 o grama. Já LSD varia de US$ 5 a US$ 20 a unidade e 15 gramas de cogumelo desidratado saem US$ 120.
A cotação, marca registrada da revista, existe desde 1974 e é publicada de acordo com informações de leitores e produtores anônimos.
Para os mais esfomeados, o site dá de brinde três receitas de pratos com maconha: "Ganja Linguine", "Jailhouse Shrimp" e "Summer Toasties".
O editor-executivo Peter Gorman deu a seguinte entrevista à Folha, por telefone, de Nova York:
*
Folha - Existe alguma pressão do governo norte-americano contra a "High Times" na Internet?
Peter Gorman - Nossas leis garantem o direito à livre expressão. Podemos dizer qualquer coisa. O que fazemos, mesmo que o governo não goste, é falar sobre o cultivo de maconha, os problemas que ela causa e o que diz a lei. Não podemos anunciar nem dizer para as pessoas onde comprar.
Folha - Mas você anunciam o "herbal ecstasy", droga natural que, recentemente, matou um garoto em Nova York.
Gorman - Milhões de pessoas tomam água. Se uma morrer, vão proibir a água? Nós achamos que o garoto morreu porque tomou outra coisa junto com o "herbal". Evidentemente, estão se aproveitando disso para a proibição.
Folha - Não é perigoso vocês recomendarem o uso da maconha numa rede de milhões de pessoas?
Gorman - Fazemos apologia, sim. O mundo seria muito melhor se todos fumassem maconha, seria menos violento. As pessoas fumariam, independentemente da revista. Apenas sugerimos um jeito de melhorar as plantações.
Folha - Vocês defendem a liberalização das drogas?
Gorman - Seria ótimo se liberassem todas as drogas. O controle deveria ser de responsabilidade do usuário. Os efeitos da proibição são piores que os das drogas. Eliminaríamos o mercado negro e essas drogas que ninguém sabe como foram produzidas.

Texto Anterior: Paris recebe dor e arte de Francis Bacon
Próximo Texto: Colunista faz experiências
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.