São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Lebed ataca influência ocidental na Rússia

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O general da reserva Alexander Lebed, novo homem-forte do governo russo, disse ontem que algumas seitas religiosas deveriam ser proibidas na Rússia, pois representam "uma ameaça à segurança nacional e buscam destruir o Estado".
Em discurso nacionalista, afirmou que o país precisa "limitar a influência ocidental".
Lebed foi nomeado na semana passada secretário do influente Conselho de Segurança, órgão consultivo da Presidência.
A participação do general no governo veio em troca de seu apoio ao presidente Boris Ieltsin no segundo turno da eleição presidencial, marcado para quarta-feira.
No primeiro turno, Lebed ficou em terceiro, com 15% dos votos. Ieltsin obteve 35% e o neocomunista Guennadi Ziuganov, 32%.
"Nós somos a nação mais inteligente e mais rica do planeta", disse Lebed. No ano passado, o general admitiu que nunca esteve fora das fronteiras da extinta URSS.
A desintegração do império soviético, a crise econômica e o aumento da influência ocidental provocam reação que favorece o desenvolvimento do nacionalismo.
O neocomunista Ziuganov, por exemplo, em seus pronunciamentos parece mais um nacionalista do que um herdeiro das idéias da Revolução Russa de 1917.
Lebed também explora o nacionalismo, mas rejeita a opção neocomunista. Disse que Ieltsin não é a "opção ideal, mas apenas a escolha correta" para levar adiante "uma nova idéia", ou seja, as reformas pró-capitalismo.
Religiões
Lebed disse que as religiões tradicionais na Rússia, como a Igreja Ortodoxa, o budismo e o islamismo, devem se desenvolver, mas não "seitas como os mórmons".
"O Estado devia colocá-los fora da lei", afirmou. "Eles não deveriam existir em nosso solo."
Lebed falava a uma platéia formada por militantes nacionalistas e cossacos, descendentes de cavaleiros que nos tempos do czarismo (império russo, derrubado em 1917) se notabilizavam pelo talento militar e protegiam fronteiras do país.
Lebed disse que as reformas econômicas atingiram "um ponto depois do qual não há caminho de volta". Mas lembrou que elas devem ser acompanhadas por uma limitação na "influência de cultura e religiões ocidentais".
O general não detalhou medidas que poderiam ser usadas para limitar a influência estrangeira. Com as reformas, o país passou a consumir mais produtos importados, de alimentos a seriados de TV.

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