São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Mulheres devem se casar virgens FERNANDO DE BARROS E SILVA FERNANDO DE BARROS E SILVA; LUIZ MALAVOLTA
A virgindade feminina antes do casamento é um valor arraigado entre os sem-terra. A pesquisa do Datafolha que ouviu acampados em quatro pontos do país revela que para 73% dos entrevistados é "muito importante" que a mulher chegue virgem ao altar. Outros 10% dos sem-terra consideram que a virgindade feminina é "um pouco importante". Que se trata de uma questão "nada importante", apenas 14% sustentam. Sobram 3% que não sabem o que dizer sobre o assunto. Somados, os que consideram a virgindade muito ou pouco importante chegam a 83% dos sem-terra. Segundo a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, do Departamento de Antropologia da USP, é assim que devem ser lidos os dados: "Ou a virgindade é importante ou não é. Não existe meia virgem. Os 10% que consideram o assunto só um pouco importante estavam provavelmente acanhados em defender sua posição". A população que ocupa a fazenda Barriguda MG) é a maior defensora da virgindade. Ali 89% dos sem-terra têm essa posição. Nesse acampamento, a bebida alcoólica é proibida e as relações sexuais só são permitidas aos casados. No Pontal do Paranapanema (SP), a porcentagem dos que defendem a virgindade cai para 60%. É num dos acampamentos do Pontal, chamado Taquaruçu, que vivem quatro adolescentes mulheres cujo sonho é ser modelo. Emanuele Tucunduva, 17, a veterana do grupo, começou a desfilar com 15, contra a vontade do pai, Wilsson Spinelli, 41. "Esse negócio não é coisa boa", diz o sem-terra, que no entanto não a impede de exercer a profissão. Emanuele já tem trabalho fixo como modelo da confecção Oykos, de Presidente Prudente (558 km a Oeste de São Paulo). Ganha R$ 200,00 por desfile e faz, em média, dois desfiles por mês. Anticoncepcionais Entre os métodos contraceptivos, o mais conhecido dos sem-terra são as pílulas, citadas por 54% dos entrevistados. O dado contrasta com os 38% que dizem não conhecer nenhum método para evitar a gravidez. O uso do preservativo foi citado por 28% dos acampados. São resultados aparentemente incoerentes, afirma Lilia Schwarcz. "A única explicação plausível é que essas populações tenham sido instruídas por campanhas médicas a usar a pílula, muitas vezes sem nem mesmo saber o que estão tomando". O sociólogo Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, considera alarmante o fato de 37% dos jovens entre 16 e 24 anos dizerem que não conhecem nenhum método contraceptivo. "Isso prova que eles não têm a menor idéia do que sejam as doenças infecto-contagiosas", afirma. Colaborou LUIZ MALAVOLTA, da Agência Folha. Texto Anterior: Em fazendas de SP, 53% votaram em FHC Próximo Texto: Diolinda quer mulheres no MST Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |