São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Governo se diz preocupado com ações violentas

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o governo federal, as tragédias de Eldorado do Carajás (PA) e de Buriticupu (MA) são um marco na questão agrária. Juntas, somaram 23 mortes. Na primeira, 19 sem-terra foram trucidados. Na outra, eles são acusados de três assassinatos.
"Os episódios do Pará e do Maranhão deixaram terríveis lições. Mas sou otimista em achar que as pessoas (governo, sem-terra, clero e fazendeiros) não serão insensíveis", diz o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, José Gregori.
Incumbido pelo presidente de manter abertos os canais de negociação com as lideranças sem-terra, a igreja e os partidos, Gregori complementa, nos bastidores, a missão pública de negociação do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária).
Segundo ele, o governo está especialmente preocupado com os rumos dos movimentos de sem-terra depois da morte de três funcionários da fazenda Cikel, no Maranhão.
Violência
Até agora, os movimentos de invasão de terra criavam situações de embaraço para o governo, mas nunca tinham tido a iniciativa da violência.
"O assassinato dos funcionários aumentou muito a preocupação do governo", afirma Gregori. "Porque de duas, uma: ou as lideranças mudaram de procedimento e passaram a adotar táticas violentas, ou foram superadas por novas lideranças, ainda não identificadas", diz.
Para o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, ainda não é possível chegar a uma conclusão sobre qual das duas hipóteses é a correta.
"Por ora é cedo. O próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não é uma unidade. É um arquipélago de tendências. Aquela que tinha mais nitidez é a que tinha raiz na Igreja Católica e que, portanto, era adepta da não-violência."
Segundo o Datafolha, o maior índice de sem-terra que defendem a luta armada pela posse da terra está no acampamento do sul do Pará, no acampamento Macaxeira. Próximo ao local onde ocorreu o massacre de Eldorado do Carajás, o acampamento tem o maior percentual de sem-terra que já enfrentaram a polícia.
Na opinião de Gregori, isso é localizado. "Lá, a coisa foi vivida em cores de tragédia, e é natural que as pessoas tenham uma visão mais quente do problema", avalia.
Toda a argumentação do auxiliar de FHC visa acalmar os ânimos. "O slogan 'na lei ou na marra' é o melhor jeito de inviabilizar tudo. O caso do Maranhão é um prenúncio de ressurgimento da 'marra', da violência", diz.
Ele têm dito às lideranças sem-terra que as categorias que mais conseguiram avanços foram as que não apelaram à "marra".
"No Brasil, se consegue muito mais por negociação do que por violência. Sempre quem recorreu à 'marra' inviabilizou sua reivindicação", afirma Gregori.

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