São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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Apatia marca o segundo turno na Rússia

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Poucas viagens, raros comícios, nenhum debate na TV entre os candidatos, cartazes e pichações ofuscados por anúncios de cigarros ou bebidas.
Depois do primeiro turno, a campanha eleitoral russa entrou numa maré de apatia, tendência que assusta assessores de Ieltsin. Rumores sobre problemas de saúde do presidente aumentam o nervosismo do comando da campanha ieltsinista.
Um baixo comparecimento às urnas pode significar a vitória do neocomunista Guennadi Ziuganov, numa reviravolta em relação aos resultados do primeiro turno.
A 16 de junho, Boris Ieltsin recolheu 35% dos votos, contra 32% de Ziuganov. A matemática continuou a favorecer o presidente, que recebeu a adesão do general da reserva Alexander Lebed, terceiro colocado com 15% da votação, e do economista Grigori Iavlinski, que chegou em quarto, com 7%.
As adesões a Ieltsin, no entanto, serviram para compor um clima de vitória antecipada do presidente responsável pela implantação de reformas pró-capitalismo. Pesquisa divulgada no último domingo deu a Ieltsin 54% das intenções de voto, contra 34% de Ziuganov.
O mercado financeiro trabalhou na semana passada com a perspectiva de vitória de Ieltsin. As ações já chegaram a atingir cotações recordes, apesar de uma queda sexta-feira, provocada pelos rumores sobre o estado de saúde de Ieltsin.
Como na Rússia o voto não é obrigatório, o clima do "já ganhou" funciona como um fator que desestimula o eleitor ieltsinista a comparecer para votar.
Ziuganov dispõe de eleitores mais disciplinados e militantes do que Ieltsin. O desejo de protestar contra o rumo das reformas basta para mobilizar um eleitorado que pode representar até 40% da votação, acrescentando-se adesões depois do primeiro turno.
O comando da campanha ieltsinista calcula que um comparecimento abaixo de 60% pode significar vitória de Ziuganov. No primeiro turno, ele foi de 70%.
O presidente Ieltsin, na primeira manobra para combater a fuga dos eleitores, conseguiu marcar a eleição para quarta-feira, em vez de manter a tradição dos domingos.
Com uma eleição no meio da semana, Ieltsin quer neutralizar o efeito dacha (casa de campo, em russo). O eleitorado ieltsinista tende a se concentrar nas camadas da população que, mais rica, costuma viajar no fim-de-semana e deixa o voto para segundo plano.

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