São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
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Visões revelam distúrbio pessoal, diz especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

Para alguns psicólogos e psiquiatras, "ver" fantasmas ou "ouvir vozes sem corpo" pode ser um sintoma claro de distúrbio psíquico e emocional que deve ser tratado com terapia e, em alguns casos, ingestão de medicamentos.
São problemas neurológicos ou mesmo emocionais que podem ser causados, por exemplo, por estresse. Esses especialistas também não descartam outra possibilidade óbvia: os relatos podem ser apenas mentiras.
"Penso que a maioria das pessoas que dizem ver fantasmas tem problemas mentais", diz Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Terapeuta junguiano (que segue a linha clínica de Carl Jung), afirma acreditar apenas em "fantasmas internos".
"Quando uma pessoa diz que está vendo ou ouvindo coisas inexplicáveis, ela pode, na verdade, estar manifestando aspectos da própria personalidade."
Segundo o psiquiatra, a ciência positivista e clássica não tem explicações para esses fenômenos paranormais. Por isso, parte desses relatos acaba sendo encarado como mero distúrbio.
A "sombra"
"Não é possível afirmar que tudo seja falso, mas sabe-se que boa parte dessas histórias extraordinárias não passa de simples mentira", diz o professor da Unifesp.
Xavier da Silveira, 40, resume de forma junguiana seu pensamento a respeito desses relatos de supostas aparições fantasmagóricas:
"Enquanto fenômenos físicos, externos e sólidos, não acredito e nunca vi nada disso. Mas, enquanto fenômenos emocionais e internos, creio que são verdadeiros."
Ou seja, segundo o psiquiatra essas pessoas podem estar "materializando", visual ou auditivamente, aspectos sombrios de sua própria personalidade. Aquilo que Jung chamava de "sombra".
Opinião semelhante tem o professor de psicologia Ruy de Mathis. Para ele, esses relatos devem ter caráter "expansionista".
"Uns escutam um barulho, outros vêem um espectro fantasmagórico e outros ainda vêem coisas se movimentarem sozinhas. Acontece que um conta para outro, que por sua vez acrescenta algo à história, e assim por diante. No fim, temos um caso de relato exagerado ou uma farsa", afirma o psicólogo.
Mathis, 44, que afirma nunca ter "visto ou ouvido fantasmas", diz acreditar que o excesso de trabalho ou o "clima profissional" podem acabar provocando distúrbios neurofisiológicos.
Já o médico e psicoterapeuta Eliezer Mendes, 66, diz não ter dúvidas de que casos fantasmagóricos, como os da Câmara, possam ser verdadeiros.
"Eu mesmo já vi aparições, com os olhos abertos. Acho plenamente possível enxergar entidades", declara Mendes, que trabalha há 40 anos com paranormalidade.
"Para algumas pessoas, é possível contatar -por meio da visão ou audição- essas entidades."

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