São Paulo, segunda-feira, 1 de julho de 1996
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Mortos, machos e mulheres

VAGUINALDO MARINHEIRO

São Paulo - O Brasil, acostumado a novelas maniqueístas e repletas de sexo, já deu um jeito de rotular sexualmente os personagens da tragédia de Alagoas.
De um lado, Suzana Marcolino, a garota de programa que atendia velhos ricos. De outro, PC Farias, garanhão endinheirado que namorava três mulheres ao mesmo tempo.
Nestes últimos dias, era difícil encontrar uma roda com mais de três homens na qual não surgisse um comentário do tipo: "Você também transou com a Suzana?" "Não! Deve ser o único".
Desde a aparição do dentista Fernando Colleoni (também rotulado de gostosão ou "bom-de-boca"), para muitas pessoas parece mais importante descobrir se ele e Suzana fizeram sexo na madrugada de sábado do que encontrar o autor dos tiros da manhã de domingo.
Isso mostra ao mesmo tempo a avidez das pessoas por assuntos de alcova e o machismo do país.
Pode ser mera coincidência, mas às mulheres sobram apenas os rótulos pejorativos. Além de Suzana, sua prima Zélia Maciel também está sendo apontada como agenciadora de mulheres, atividade no mínimo ilícita.
O que vale discutir agora é que importância tem para a solução do mistério o número de homens que estiveram com Suzana.
Se nenhum deles estiver envolvido com os assassinatos, nenhuma.
Mas, como dito acima, a solução do crime não é a única coisa que as pessoas querem.
Com tantas novelas vagabundas na TV, uma história real que envolve política, dinheiro, sexo, mulheres jovens e homens velhos vira facilmente campeã de audiência.
E, para a platéia, tanto melhor se for possível ouvir mensagens e adentrar os quartos de todos os personagens.

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